Capítulo 12: FUGA
Retalhos de diversos tamanhos estouraram para cima ,num grande leque de couro e trapo. O casaco de Quatrocordas estava mesmo precisando se aposentar, mas não havia necessidade de ter esse trágico final. Belthias sorria e colocava a língua para fora da boca, deliciando-se no próprio deboche que esboçava escancaradamente. Por dentro, vibrava de felicidade por conseguir, sem muito esforço, um bom partido: um Hunter forte, alto e intimidador.
Não que precisasse dele sempre, mesmo porque toda Lullaby se orgulha de ser uma: confiam em seus poderes e em suas ilusões, considerando-as o bastante para a raça rival. Mas ter um idiota, sempre disponível ao seu bel prazer, fazendo o que ela bem decidisse, era o que realmente a divertia. E esse pensamento era o da maioria das Lullabys.
O momento em que Quatrocordas foi atingido, fôra contemplado ao máximo pela criatura: ele flexionara as pernas, de modo que parasse longe, sendo arrastado para trás. Mais ou menos uns doze metros, na posição de montaria. Seus braços instintivamente ergueram-se para frente, e mãos e dedos contorceram-se pelo impacto. Talvez também pela dor. Sua cabeça havia se curvado para baixo; deu para notar, antes de abaixar, que o ele havia feito uma careta. Acertar um bêbado, à queima-roupa, foi um ato traiçoeiro e injusto. Entretanto, as Lullabys não ligam muito pra isso também...
Distanciando aos metros e deixando de forma funda a marca dos seus pés no chão empoeirando, Cordas apoia a mão esquerda no peito, onde foi atingido. Ainda sua postura é cabisbaixa e usa a mão direita no chão como apoio; por fim seu joelho direito encosta na superfície do deserto. A Lullaby se adianta:
—Eu vou me retirar. Detesto assistir o processo que vocês passam. Quebra totalmente o clima e eu não tenho estômago para isso. Logo mais você me achará mesmo, pois estará sob meu controle. Então, até breve!
Ela vira de costas para ele de um jeito um pouco gracioso e abaixa a arma, começando a caminhar, distanciando-se. O Hunter se concentra, antes de pronunciar tal questão:
—Onde pensa que vai?
A Lullaby continua andando, apenas virando o rosto para responde-lo:
— que Hunter mal educado! Eu vou lhe esperar em meus domínios para me servir, oras!
Belthias continua andando e diz, ainda de forma um pouco compreensiva em relação ao estado do homem:
—Não tenha pressa em levantar desse lugar. Com o efeito da fumaça, entendo que até um Hunter com a sua resistência não conseguiria manter o equilíbrio.
No mesmo instante que ela disse isso, atrás dela a silhueta de Quatrocordas levantara. Parecia emanar uma áurea desconhecida, porém ofensiva em sua essência. Dava medo. A Lullaby, à princípio, se espantou, sem olhar para trás, sentindo apenas a energia proveniente do homem. Mas depois ela deixou escapar pelo canto da boca um sorrisinho malicioso. Virou-se, subestimando-lhe:
—Muito bem! Mas o que adianta levantar com toda essa pose, se você já está dominado? Apenas aceite o fato.
De súbito, a criatura parou de falar asneiras e resolveu perceber algo no silencio de Cordas. Era um convite para calar a boca e observar o estado do rival.
Quatrocordas estava de pé, levemente sob o efeito da fumaça. Seu casaco, do lado do coração, estava em frangalhos, mas não havia sangue ou quaisquer ferimentos sério ou profundo. No lugar atingido, embaixo do que sobrou da tramado pano, um estranho brilho metálico escondia-se.
— Você... não foi atingido? Mas... Mas eu podia jurar que eu te atingi! Não tinha como eu errar. Então, como...?
A Lullaby estava confusa com o que via. O homem fez o favor de esclarecer a ignorância que pairava:
— A minha sorte foi que, excepcionalmente hoje, troquei de lugar a minha arma favorita e coloquei encaixada no suporte da frente de dentro do meu casaco.
—...
Belthias ficou extremamente irritada e sem palavras. Não era uma Lullaby de Rank S, nem Rank A, com poderes independentes de sua arma, como criaturas desses respectivos níveis. Ela ainda precisava aprimorar sua mira e o efeito de seu tiro.
Se nunca foi comprovada a existência de magias neste mundo, um detalhe importante que deixam os Hunters sob constante desvantagem é o poder que essas criaturas podem ter. Desenvolvem a partir de suas misteriosas origens, e os Homens jamais ousaram usar qualquer palavra que remeta a "magia" para tentar explicar os poderes das Lullabys. É desconhecido se os Hunter temem que isso possa ser verdade e existente, mudando o paradigma implantado na realidade deles...
Belthias poderia então não ter poderes, mas usava sua inteligencia e conhecimentos ao seu favor. Isso não deixava de ser um poder, porém de forma simples. Por isso, usava e abusava de substâncias químicas em seus tiros para paralisar seus alvos e assim, desferir sem problemas, seu último tiro. Era a forma que encontrou para se igualar as Lullabys de classe A e S.
Cordas continua:
— Eu poderia simplesmente ficar quieto aqui, imóvel e esperar você se afastar ,e esperar-me onde eu jamais chegaria; você perceberia tarde demais a sua falha. Mas, pela sua teimosia, acho que lhe devo ensinar BONS MODOS!
Do outro lado do que restou do casaco, Quatrocordas tira do segundo suporte sua maça-estrela Morning Star. A Lullaby encara o brilho metálico protegendo o coração de Cordas e depois o fita no rosto, esperando alguma reação ou resposta do Hunter.
— Não, não vou tira-lo aqui do meu peito, se esta é a sua pergunta. O Simmons me protegerá de qualquer ataque seu almejando essa direção. A Morning Star é mais do que suficiente para você.
— Maldito! Te dei a chance de viver feliz ao meu lado. Sair dessa vida medíocre e solitária que é de um Hunter. Pois bem — E dá um novo gatilho seco, levantando a Shotgun — Vou te deixar inválido e depois acabarei com a sua alma. Ficará vagando, como puder, no meio de toda essa poeira, e nem terá consciência disso!
Ela fecha um dos olhos, mira na cabeça do caçador e atira com uma mão só. Seu corpo ,tomado pela raiva, fez um movimento desengonçado com a ousadia de ter atirado com um braço só a Shotgun. Mas nem por isso errou a direção ou ficou numa posição desvantajosa; tratou de manter a postura para novos ataques e defesas, não fosse por um detalhe.Quase que no mesmo segundo que foi disparado o projétil, Cordas já havia previsto esse movimento da Lullaby, e esmagou o chão abaixo do seus pés com a sua força descomunal, destruindo-o num raio de cinquenta metros, fazendo a criatura perder o equilíbrio e subindo grandes pilares de rochas, protegendo-o do tiro e levantando outros na direção dela.
Os conhecidos do Hunter, incluindo alguns membros do DeepSea, quando avistavam erosões ou territórios acidentados isolados do Grande Deserto, diziam que Quatrocordas havia tido uma luta épica naquele local. Apesar de se tratar de uma brincadeira entre amigos, isso fazia todo o sentido no que diz respeito aos locais onde Cordas lutava.
Não sobrava praticamente nada.
A Lullaby foi atingida pelos pilares que subira e, com isso, foi arremessada para trás como papel pelo ar. Para completar, Cordas não mediu esforços: avançou na direção dos pilares que já haviam acertado a criatura e despedaçou-os com a maça-estrela, fazendo voar grandes pedaços de rochas, acertando-a de tabela. Ela rolou algumas vezes no chão e ali ficou. Estava viva, mas muito debilitada. Sua Shotgun caiu um tanto afastada de seu alcance. Cordas soltou suas palavras:
— O seu erro foi ter me deixado com essa terrível sensação — disse Cordas, aproximando-se da Lullaby — Eu costumava treinar todo dia neste estado.
Com a mão no ventre, a criatura tentou levantar mas foi em vão: o Hunter ja estava de pé, ao seu lado. Ajoelhou, e pegou-a passando seu braço pela cintura da Lullaby e levantou o tronco do chão. Sentada, começou a previr o que viria:
— O que vai fazer comigo, Hunter desgraçado?
A expressão do homem era aparentemente severa. Mas era mais que isso. Era calma, determinada e irreversível.
— Que pergunta mais óbvia... Vou pegar seu Egocon...
****************************************************
Cordas estava indo embora. Belthias se mantinha, ainda que de forma quase sobrenatural, resistente. Talvez o Hunter tivesse pego apenas o suficiente da energia, fazendo com que ela alcançasse a Shotgun e teimasse a lutar.
— Você será meu, entendeu? Não fuja, volte aqui!
Ela faz uma nova mira. Ele torna a virar-se pra ela e diz:
— Para não aparentar que estou fugindo, eu deveria silencia-la ou você me atingir fatalmente. Mas não dou a mínima para o que você pensa. Se ainda tem forças para se levantar, aconselho então a se dirigir para onde você estava indo antes de perder. Quem sabe eu ainda não lhe faça uma visita?
Em seguida, pulou consideravelmente alto e acertou sua maça-estrela no chão, levantando uma enorme parede de rocha, do próprio chão elevado. Uma barreira de uns quarenta metros de altura e comprimento considerável separava a Lullaby do Hunter.
A criatura foi coerente apenas uma vez e decidiu não mover um músculo para ir atrás do homem. E ela tinha razão: se encontrava quase rastejando-se, com as pernas trêmulas, esgotada. Se ultrapassasse a muralha de rochas, não encontraria nenhum vestígio de Cordas. Seus passos pesados não deixariam marcas no deserto. Não estaria mais ali: estaria longe, muito longe.
****************************************************
O Hunter tomou uma direção alternativa. Isso levou mais tempo; foram-se dias. Talvez semanas. à esta altura ele perdera a noção de tempo e repetia a cena na cabeça da qual ele almejava quase como um presente divino: estar em pé na sala do Deep Sea. Ele precisou se esconder e averiguar se ainda estava sendo seguido por Belthias e tomou todo o cuidado para não ter o azar de trombar grupos de Lullabys perambulando o deserto. Cordas possuía uma concepção diferente de Gipsy e mais próxima de Vanitas, de modo que o fez coletar uma quantidade não suficiente de Egocon para longas caminhadas. Achara na ocasião que, logo após deixar Belthias para trás, iria o mais rápido possível ao encontro do líder do DeepSea. Mas no meio do caminho foi mudando sua estratégia e isso foi muito bem vindo: conseguiu evitar grandes problemas. Nunca rumava em linha reta, apenas pelas existência de grandes elevações de rochas que podia se esconder, caso precisasse. Quando finalmente achou conveniente arriscar a sair debaixo de uma gigantesca elevação de rochas, poe-se a andar rumo a uma área com aparições de Lizgarts.
Esses grandes lagartos do deserto, quase do mesmo tamanho que um Avestruz, servia de montaria para os Hunters. Isso facilitaria a vida dos homens, e seria seu principal meio de locomoção rápida em longas distâncias, se não houvesse dois pequenos detalhes a respeito desses animais: o primeiro é que eles exalam um cheiro que os homens não sentem, apenas as Lullabys. O segundo detalhe é que Lizgart é o alimento favorito delas.
São dóceis e fáceis de montar, apesar da aparência mesclada de um dinossauro bípede. Basta ter um punhado do alimento favorito deles, que quase tudo está resolvido. Entretanto, escolher domá-los e monta-los não é sempre a melhor escolha a se fazer.
Quatrocordas decidira, após caçar alguns pequenos lagartos e cobras do deserto para comer, na noite anterior, que arriscaria rumar em direção a uma área próxima, onde havia pegadas de Lizgarts e partiria em disparada dali no mesmo instante que domasse um. Ele sentia que precisava arriscar e ir contra toda a pressa que sempre ignorou na vida inteira.
Dali, se conseguisse uma montaria, este caminho com a velocidade do bicho, o levaria rapidamente até a base dos Hunters.
Começou o dia e Cordas poe-se a caminhar durante horas, não tão extensas, até sentir um peso um pouco maior que a sua mochila. "Devo estar cansado", pensou. Mas continuou caminhando. Mais alguns minutos e, estes sim, foram compridos.
Não era um peso que não pudesse ignorar — Cordas era um Hunter fortíssimo, nada choramingão e o mais temido do grupo liderado por Gipsy — mas algo estava errado. Seria ainda os efeitos dos tiros de Belthias? Era possível, já que ele não sabia quanto tempo o efeito diabólico durava.
Resolveu parar. Fez menção para tal quando, uma voz que ele conhecia muito bem, disse:
—Imaginei que aguentaria levar-me mais longe. Desistiu, ou simplesmente cansou de me carregar?
Nas costas dele, deitada sobre sua mochila, de pernas cruzadas e para cima, olhando as unhas de uma mão, jazia ali, tranquilamente...aparentemente à toa, o terror.
Quando ele virou só a face para ver, um calafrio intenso e profundo dominou não só o corpo dele, como também seu espírito inabalável. Sua expressão se perdeu na mais aterrorizante perdição que um Hunter pode chegar. A ideia do efeito dos tiros de Belthias dissipou na mesma hora, com o tranco frio da realidade. Cordas se esforçou para perguntar algo sem sentido:
— O...q-que voc- você faz...aqui??
—Eu vou me retirar. Detesto assistir o processo que vocês passam. Quebra totalmente o clima e eu não tenho estômago para isso. Logo mais você me achará mesmo, pois estará sob meu controle. Então, até breve!
Ela vira de costas para ele de um jeito um pouco gracioso e abaixa a arma, começando a caminhar, distanciando-se. O Hunter se concentra, antes de pronunciar tal questão:
—Onde pensa que vai?
A Lullaby continua andando, apenas virando o rosto para responde-lo:
— que Hunter mal educado! Eu vou lhe esperar em meus domínios para me servir, oras!
Belthias continua andando e diz, ainda de forma um pouco compreensiva em relação ao estado do homem:
—Não tenha pressa em levantar desse lugar. Com o efeito da fumaça, entendo que até um Hunter com a sua resistência não conseguiria manter o equilíbrio.
No mesmo instante que ela disse isso, atrás dela a silhueta de Quatrocordas levantara. Parecia emanar uma áurea desconhecida, porém ofensiva em sua essência. Dava medo. A Lullaby, à princípio, se espantou, sem olhar para trás, sentindo apenas a energia proveniente do homem. Mas depois ela deixou escapar pelo canto da boca um sorrisinho malicioso. Virou-se, subestimando-lhe:
—Muito bem! Mas o que adianta levantar com toda essa pose, se você já está dominado? Apenas aceite o fato.
De súbito, a criatura parou de falar asneiras e resolveu perceber algo no silencio de Cordas. Era um convite para calar a boca e observar o estado do rival.
Quatrocordas estava de pé, levemente sob o efeito da fumaça. Seu casaco, do lado do coração, estava em frangalhos, mas não havia sangue ou quaisquer ferimentos sério ou profundo. No lugar atingido, embaixo do que sobrou da tramado pano, um estranho brilho metálico escondia-se.
— Você... não foi atingido? Mas... Mas eu podia jurar que eu te atingi! Não tinha como eu errar. Então, como...?
A Lullaby estava confusa com o que via. O homem fez o favor de esclarecer a ignorância que pairava:
— A minha sorte foi que, excepcionalmente hoje, troquei de lugar a minha arma favorita e coloquei encaixada no suporte da frente de dentro do meu casaco.
—...
Belthias ficou extremamente irritada e sem palavras. Não era uma Lullaby de Rank S, nem Rank A, com poderes independentes de sua arma, como criaturas desses respectivos níveis. Ela ainda precisava aprimorar sua mira e o efeito de seu tiro.
Se nunca foi comprovada a existência de magias neste mundo, um detalhe importante que deixam os Hunters sob constante desvantagem é o poder que essas criaturas podem ter. Desenvolvem a partir de suas misteriosas origens, e os Homens jamais ousaram usar qualquer palavra que remeta a "magia" para tentar explicar os poderes das Lullabys. É desconhecido se os Hunter temem que isso possa ser verdade e existente, mudando o paradigma implantado na realidade deles...
Belthias poderia então não ter poderes, mas usava sua inteligencia e conhecimentos ao seu favor. Isso não deixava de ser um poder, porém de forma simples. Por isso, usava e abusava de substâncias químicas em seus tiros para paralisar seus alvos e assim, desferir sem problemas, seu último tiro. Era a forma que encontrou para se igualar as Lullabys de classe A e S.
Cordas continua:
— Eu poderia simplesmente ficar quieto aqui, imóvel e esperar você se afastar ,e esperar-me onde eu jamais chegaria; você perceberia tarde demais a sua falha. Mas, pela sua teimosia, acho que lhe devo ensinar BONS MODOS!
Do outro lado do que restou do casaco, Quatrocordas tira do segundo suporte sua maça-estrela Morning Star. A Lullaby encara o brilho metálico protegendo o coração de Cordas e depois o fita no rosto, esperando alguma reação ou resposta do Hunter.
— Não, não vou tira-lo aqui do meu peito, se esta é a sua pergunta. O Simmons me protegerá de qualquer ataque seu almejando essa direção. A Morning Star é mais do que suficiente para você.
— Maldito! Te dei a chance de viver feliz ao meu lado. Sair dessa vida medíocre e solitária que é de um Hunter. Pois bem — E dá um novo gatilho seco, levantando a Shotgun — Vou te deixar inválido e depois acabarei com a sua alma. Ficará vagando, como puder, no meio de toda essa poeira, e nem terá consciência disso!
Ela fecha um dos olhos, mira na cabeça do caçador e atira com uma mão só. Seu corpo ,tomado pela raiva, fez um movimento desengonçado com a ousadia de ter atirado com um braço só a Shotgun. Mas nem por isso errou a direção ou ficou numa posição desvantajosa; tratou de manter a postura para novos ataques e defesas, não fosse por um detalhe.Quase que no mesmo segundo que foi disparado o projétil, Cordas já havia previsto esse movimento da Lullaby, e esmagou o chão abaixo do seus pés com a sua força descomunal, destruindo-o num raio de cinquenta metros, fazendo a criatura perder o equilíbrio e subindo grandes pilares de rochas, protegendo-o do tiro e levantando outros na direção dela.
Os conhecidos do Hunter, incluindo alguns membros do DeepSea, quando avistavam erosões ou territórios acidentados isolados do Grande Deserto, diziam que Quatrocordas havia tido uma luta épica naquele local. Apesar de se tratar de uma brincadeira entre amigos, isso fazia todo o sentido no que diz respeito aos locais onde Cordas lutava.
Não sobrava praticamente nada.
A Lullaby foi atingida pelos pilares que subira e, com isso, foi arremessada para trás como papel pelo ar. Para completar, Cordas não mediu esforços: avançou na direção dos pilares que já haviam acertado a criatura e despedaçou-os com a maça-estrela, fazendo voar grandes pedaços de rochas, acertando-a de tabela. Ela rolou algumas vezes no chão e ali ficou. Estava viva, mas muito debilitada. Sua Shotgun caiu um tanto afastada de seu alcance. Cordas soltou suas palavras:
— O seu erro foi ter me deixado com essa terrível sensação — disse Cordas, aproximando-se da Lullaby — Eu costumava treinar todo dia neste estado.
Com a mão no ventre, a criatura tentou levantar mas foi em vão: o Hunter ja estava de pé, ao seu lado. Ajoelhou, e pegou-a passando seu braço pela cintura da Lullaby e levantou o tronco do chão. Sentada, começou a previr o que viria:
— O que vai fazer comigo, Hunter desgraçado?
A expressão do homem era aparentemente severa. Mas era mais que isso. Era calma, determinada e irreversível.
— Que pergunta mais óbvia... Vou pegar seu Egocon...
****************************************************
Cordas estava indo embora. Belthias se mantinha, ainda que de forma quase sobrenatural, resistente. Talvez o Hunter tivesse pego apenas o suficiente da energia, fazendo com que ela alcançasse a Shotgun e teimasse a lutar.
— Você será meu, entendeu? Não fuja, volte aqui!
Ela faz uma nova mira. Ele torna a virar-se pra ela e diz:
— Para não aparentar que estou fugindo, eu deveria silencia-la ou você me atingir fatalmente. Mas não dou a mínima para o que você pensa. Se ainda tem forças para se levantar, aconselho então a se dirigir para onde você estava indo antes de perder. Quem sabe eu ainda não lhe faça uma visita?
Em seguida, pulou consideravelmente alto e acertou sua maça-estrela no chão, levantando uma enorme parede de rocha, do próprio chão elevado. Uma barreira de uns quarenta metros de altura e comprimento considerável separava a Lullaby do Hunter.
A criatura foi coerente apenas uma vez e decidiu não mover um músculo para ir atrás do homem. E ela tinha razão: se encontrava quase rastejando-se, com as pernas trêmulas, esgotada. Se ultrapassasse a muralha de rochas, não encontraria nenhum vestígio de Cordas. Seus passos pesados não deixariam marcas no deserto. Não estaria mais ali: estaria longe, muito longe.
****************************************************
O Hunter tomou uma direção alternativa. Isso levou mais tempo; foram-se dias. Talvez semanas. à esta altura ele perdera a noção de tempo e repetia a cena na cabeça da qual ele almejava quase como um presente divino: estar em pé na sala do Deep Sea. Ele precisou se esconder e averiguar se ainda estava sendo seguido por Belthias e tomou todo o cuidado para não ter o azar de trombar grupos de Lullabys perambulando o deserto. Cordas possuía uma concepção diferente de Gipsy e mais próxima de Vanitas, de modo que o fez coletar uma quantidade não suficiente de Egocon para longas caminhadas. Achara na ocasião que, logo após deixar Belthias para trás, iria o mais rápido possível ao encontro do líder do DeepSea. Mas no meio do caminho foi mudando sua estratégia e isso foi muito bem vindo: conseguiu evitar grandes problemas. Nunca rumava em linha reta, apenas pelas existência de grandes elevações de rochas que podia se esconder, caso precisasse. Quando finalmente achou conveniente arriscar a sair debaixo de uma gigantesca elevação de rochas, poe-se a andar rumo a uma área com aparições de Lizgarts.
Esses grandes lagartos do deserto, quase do mesmo tamanho que um Avestruz, servia de montaria para os Hunters. Isso facilitaria a vida dos homens, e seria seu principal meio de locomoção rápida em longas distâncias, se não houvesse dois pequenos detalhes a respeito desses animais: o primeiro é que eles exalam um cheiro que os homens não sentem, apenas as Lullabys. O segundo detalhe é que Lizgart é o alimento favorito delas.
São dóceis e fáceis de montar, apesar da aparência mesclada de um dinossauro bípede. Basta ter um punhado do alimento favorito deles, que quase tudo está resolvido. Entretanto, escolher domá-los e monta-los não é sempre a melhor escolha a se fazer.
Quatrocordas decidira, após caçar alguns pequenos lagartos e cobras do deserto para comer, na noite anterior, que arriscaria rumar em direção a uma área próxima, onde havia pegadas de Lizgarts e partiria em disparada dali no mesmo instante que domasse um. Ele sentia que precisava arriscar e ir contra toda a pressa que sempre ignorou na vida inteira.
Dali, se conseguisse uma montaria, este caminho com a velocidade do bicho, o levaria rapidamente até a base dos Hunters.
Começou o dia e Cordas poe-se a caminhar durante horas, não tão extensas, até sentir um peso um pouco maior que a sua mochila. "Devo estar cansado", pensou. Mas continuou caminhando. Mais alguns minutos e, estes sim, foram compridos.
Não era um peso que não pudesse ignorar — Cordas era um Hunter fortíssimo, nada choramingão e o mais temido do grupo liderado por Gipsy — mas algo estava errado. Seria ainda os efeitos dos tiros de Belthias? Era possível, já que ele não sabia quanto tempo o efeito diabólico durava.
Resolveu parar. Fez menção para tal quando, uma voz que ele conhecia muito bem, disse:
—Imaginei que aguentaria levar-me mais longe. Desistiu, ou simplesmente cansou de me carregar?
Nas costas dele, deitada sobre sua mochila, de pernas cruzadas e para cima, olhando as unhas de uma mão, jazia ali, tranquilamente...aparentemente à toa, o terror.
Quando ele virou só a face para ver, um calafrio intenso e profundo dominou não só o corpo dele, como também seu espírito inabalável. Sua expressão se perdeu na mais aterrorizante perdição que um Hunter pode chegar. A ideia do efeito dos tiros de Belthias dissipou na mesma hora, com o tranco frio da realidade. Cordas se esforçou para perguntar algo sem sentido:
— O...q-que voc- você faz...aqui??
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