sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Short Novel - Heróis de Areia ~Capítulo 9: استراحة

Capítulo 9: استراحة


1 mês depois...

Móveis e toda e qualquer tipo de bugiganga começava a tentar ganhar vida, para só então possuir um merecido propósito novamente. O espaço que aparecia naquele ambiente pela mudança de lugar de cada objeto e o pó tirado de cada um deles era obra de um deus deles que os havia abandonado a muito tempo. Um Deus confuso, egoísta, difícil de se prever e que, aos poucos, morria.
Envelhecia a cada segundo e começava a esquecer o rosto de seus companheiros. Não por maldade declarada, mas a mente já não estava trabalhando tão bem feito uma engrenagem nova de um belo e notável relógio. Cismava em girar em um ritmo lento e à desejar para fazer funcionar um corpo ágil e um espírito que já foi mais forte, em outras épocas.
Suas viagens se tornaram mais constantes e solitárias à sua Garden e aquilo que era inédito passou a ser rotineiro: Gipsy não caçava mais Lullabys. Tomava rotas alternativas que nunca havia tomado na vida, onde sabia que a movimentação dessas criaturas era rara. Era avistar uma chegando perto e prontamente se camuflava, atuando novamente com movimentos que o lembrava de um tempo que ele era um mero aspirante à caçador e que acreditava, com toda força e ímpeto de um jovem que jamais teria capacidade se tornar um Hunter. Se esconder em pedras, se camuflar em algumas regiões onde a superfície parecia mais com o Deserto do Saara e andar em trechos onde era tão limpo e vazio de elementos naturais que não havia nada que o pudesse esconder ou abrigar. Nenhum Hunter pegava principalmente essa rota pois ficavam muito expostos a ataques de alguma Lullaby de passagem ou sedenta por uma marionete. Entretanto elas, pensando dessa forma, também não percorria essas regiões. E era ai que Gipsy encontrava vantagem na forma ridícula que os Hunters e Lullabys pensavam em comum. Era praticamente um homem invisível passando por dois ideais cegos feito criaturas subterrâneas que nunca viram a luz do sol.
Quanto ao seu jardim, seu estado até tinha melhorado um pouco, porém permanecendo crítico. E em relação à ele, os sonhos continuaram com aquela voz desconhecida e o dono dela com sua forma indefinida. A cada sonho, mais e mais sistemas de ventilação natural era criado e acoplado na Garden, como pequenos tornados que serviam de limpeza do terreno, expelindo (ou tentando) todo o sal que condenava o solo. Gipsy sonhava com o surgimento de um novo tornado e, quando visitava a Garden, lá estava ele, no exato local que apareceu em seus sonhos em outras noites.
Poderia a Garden do Hunter estar tentando se auto-curar? Era possível que o poder de um jardim chegasse nessa consciência? Seria cada elemento ali lutando pra sobreviver como um todo, cada um fazendo sua parte, talvez. Nunca se soube o poder real de uma Garden e o que ela pode fazer. Mas Gipsy ficava com o rosto latejando toda vez que lembrava da ocasião que sua cabeça foi quase arrancada pela raiz do jardim de Ward.
Se não fosse tudo isso, quem a estaria ajudando? Quem era o homem que invadia os sonhos do caçador e lhe dava dicas de procedimento, ao mesmo tempo que acoplava os "aspiradores naturais" contra os sais nocivos?
Esses pensamentos e ações faziam o corpo e a mente de Gispy tomar novos costumes, quase de um senhor de muitos anos. Era totalmente diferente do que ele era, não estando nem com trinta e cinco anos de idade estampado no rosto. O Hunter passou seus dias e suas noites assim, se concentrando em suas viagens e mudando alguns objetos de lugar no Q.G.. Aliás, não tinha mais certeza se aquilo podia continuar sendo chamado de quartel general. A situação do grupo possuía uma ruptura em seu coração: Cordas sumiu do mapa. Rumores diziam que ele também fazia viagens, tomando todo seu tempo. Glasses passou a frequentar menos a base do DeepSea e aprimorando suas técnicas em caçadas medianas. O telégrafo, o telefone antigo movido a energia Egocon e as cartas começaram a se tornar cada vez mais raras com propostas de caça de algum homem que não foi capaz de se tornar Hunter ou que escolheu possuir uma vida pacata até o dia infeliz que trombasse de frente com uma Lullaby, que muito bem poderia também estar ameaçando essa ou aquela região.
Gipsy virava e mexia se pegava refletindo sobre quantos Hunters já havia passado pelo Q.G., sendo oficiais ativos ou só mesmo contratados para caçadas específicas. Under W., Bone,  Hombre S.,  Rhussiann, Christopher, Sleepooh, Chaotix,  Vicky, Punch K., Vanitas (esse último em raras ocasiões) e tantos outros da lista que sua mente não permitia lembrar.
Ele sempre ficou encarregado de agendar e distribuir as funções e missões que cada membro do grupo realizaria. Tudo de uma forma democrática. Entretanto, a partir do momento que ele começou a esquecer mais de si mesmo e se tornar negligente sobre suas funções, seus amigos não viram outra alternativa senão fazer suas próprias caçadas. São homens ,acima de tudo, independentes. Com qual com um único objetivo em comum: caçar e silenciar Lullabys.

Mas era simplesmente mágico quando juntos, formavam o temido grupo DeepSea!

O portador da Lúdica precisava admitir: ele mesmo deu um cheque-mate no grupo. Como se isso não fosse o bastante, Greenglasses e Quatrocordas sabiam que o amigo precisava de um tempo, ou umas férias. Desconfiavam apenas entre eles que fatalmente poderia ser férias permanentes...
Aos pupilos, Gipsy deu um recesso de alguns meses. Suas ausências de espírito nos treinos começavam a ficar cada vez mais presentes, tirando-o fora de foco. Tomou então a atitude de assumir sua falta de presença:
Como ser humano...
Como Magister...
Como Hunter e Alone Howl...
Como membro do DeepSea...

O grupo desmantelou-se de vez e só um milagre para acelerar o tempo e colidir com possibilidades que poderiam fazer o DeepSea voltar ao estado que se encontrava antes das perguntas sem respostas...


...O milagre veio. Fragmentado em doses homeopáticas de caos e surpresa...

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Cada Hunter na face desse planeta arenoso tem sua própria moradia. Mas sabe-se que cada um também possui um esconderijo, para evitar ataques surpresas de Lullabys. Esse lugar é ocultado até mesmo de outros Hunters que possam pertencer ao mesmo grupo. É conhecido como um retiro: serve para colocar as ideias no lugar, se preparar para batalhas ou mesmo se curar de uma. Se por um lado Gipsy nunca deixou transparecer quaisquer pista de possuir um esconderijo (mesmo porque o Q.G. sempre esteve em lugar estrategicamente oculto à céu aberto), outros do grupo DeepSea poderia ter o seu próprio retiro.
Cordas é um deles...
De todos os membros que são ou já foram do D.S., QuatroCordas é o Hunter mais equilibrado e quieto. Sua sensatez se equipara com a de Vanitas, perdendo em apenas em alguns pontos e ganhando em outros. Um Hunter que mais ouve do que fala. Saber o que planeja, o que faz ou para onde vai, só se descobre se ele permitir com toda a sua vontade. Caso contrário, jamais passará por aquela muralha de segredos que até parece que os grãos de areia do deserto mundial não o alcançam.
Na mesa, onde o homem alto se encontra debruçado em estudos e mais estudos dentro de seu esconderijo, papéis espalhados sobre a superfície tem o peso do mundo. Aqueles documentos foram buscados no período que Cordas visitou Vanitas e que Gispsy jamais desconfiou que ele havia passado em outro lugar, saindo da casa do Hunter de cabelos quase cinzas, naquele fatídico dia.
Aparenta dias que Cordas não dorme. Cabelo bagunçado, olheiras querendo aparecer em seu rosto de idade similar à de Gipsy e Greenglasses e o cansaço estampado em seus olhos que absorveram em outrora revelações que ele se negava a acreditar. Porém, agora não fazia mais sentido ir contra elas. Na mesa daquele homem, os documentos de um passado esquecido e ocultado quebravam os paradigmas da existência. Era uma realidade escrita entrando em conflito com uma realidade de carne e osso, que travou uma batalha sentado, estudando minuciosamente suas linhas e veracidade. Foi uma batalha digna, apesar do silêncio. Mas os documentos venceram aquele monumento. Mas colocava o homem no topo entre muitos outros, mostrando que todos lá embaixo eram iguais. Carregavam uma história que nunca desconfiaram.
E que ele, sendo o homem da montanha de prata, tinha a divina missão de avisar, escolhido à dedo, sobre a verdade.
Pensou imediatamente em Gipsy e em Glasses.
Seu estoque de Sand Beer havia sido esgotado em cada linha lida que era difícil de engolir à seco. Bebericou o restinho que tinha da última que se encontrava na mesa, juntou os manuscritos e preparou a mochila de viagem.
O problema não era tanto chegar em poucos dias ao famigerado quartel general que não via à meses. E sim a quase impossível missão de tentar colocar o que descobriu dentro da mente duvidosa que Gipsy cultivava. Não fosse por essa crise, Greenglasses com certeza daria mais trabalho para absorver a verdade.

— Não tem jeito, terei de descobrir alguma maneira de colocar isso na cabeça daqueles dois paçocas! — Murmura para si mesmo. Depois, continua —  Vanitas estava certo. Tudo aquilo era verdade. E, se não nos apressarmos à entender alguns processos, perderemos mais amigos e essa guerra nunca terá fim.
Colocou a mochila nas costas, trocando suas armas de lugar e colocando num outro compartimento, do lado de dentro do seu casaco pesado de viagem. Aparentava ter o peso que só Cordas poderia aguentar. Com suas armas, então, ficava difícil calcular...

Saindo do esconderijo, enquanto caminha, Cordas fala em um tom aflito:

— É, Gipsy, se você está cansado dessa merda de realidade, te levarei então um novo ponto de vista dessa droga toda! Cabe à você decidir o que fará daqui pra frente...

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Quatrocordas via Gipsy numa corda-bamba em relação ao seus sentimentos e obstáculos. Ele mostrava melhoras e quando menos esperava, ele se enfiava no breu dos seus pensamentos e era terrível tira-lo de lá. Gipsy sempre mostrou um lado confuso e frágil em lidar com esse tipo de coisa. Apostar na compreensão do portador da Lúdica, mesmo neste estado, era a mesma coisa que jogar uma moeda para cima e ver se o resultado vai dar cara ou coroa.Se isso poderia irritar a maioria dos Hunters que se aproximavam de Gipsy, por outro alimentava uma ingênua esperança nos corações dos que se encontravam perto desse confuso caçador. Cordas, com todo aquele tamanho, era vítima desse sentimento que Gipsy fazia qualquer um irradiar à respeito dele. Com uma única diferença: Quatrocordas estava disposto a fazer o líder do DeepSea engolir manuscritos goela abaixo caso recusasse a não ouvir ou ler. Cordas sempre foi muito simpático neste ponto. E sistemático, e com pouca paciência nisso também...

É dia. O sol não deu as caras no céu ainda por conta de nuvens muito brancas em contraste com um azul muito bem espalhado. Ao que parece, não será aqueles dias infernais de Sol a pino.
De repente, Quatrocordas pára de súbito. Seus sapatos de bico fino e salto ficam paralelos um ao outro. Ele sente e vê que a brisa do deserto parou por um instante e mudou a direção. Passou por ele como um corte. Não contemplou o silencio que se encontrava nesse milissegundo: girou o corpo pra direita e tomou impulso, flexionando os joelhos e pulando com força para trás, subindo uns oito metros do chão. De cima, viu ao mesmo tempo que, onde se encontrava, fazia um caminho de balas perdidas bem servidas que não encontrava o alvo e só restava se espatifar contra aquele solo. Por pouco não foi atingido.
Quando encostou os pés no solo novamente, seu braço direito segurava ainda mais forte a alça da sua mochila e o braço esquerdo estava solto, caído e com a palma da mão voltada para o chão. O braço se encontrava na frente do corpo que girou o tronco e colocou-o em posição de defesa. A atiradora se revela, vindo rápido de um ponto distante, onde havia uma elevação de areia. A maioria dessas criaturas tem um corpo esguio e são ágeis a ponto de ,quando correm, parecem flutuar. É pouco, se comparado aquelas que sabem voar...

— Havia me esquecido de você! —  Cordas fala para a Lullaby.

— Como assim? —  A criatura de roupas leves e cabelos semi-cumprido pergunta um tanto interessada.

— Há dias que notei que você estava em meu encalço, mas consegui fazer de um jeito que eu ficasse oculto perante seu faro de dominar corações e mentes de Hunter inexperientes.

— ... E o que me diz de agora? Devia prestar mais atenção no seu...

— ...Coração? É, você tem razão. — Quatrocordas concorda —  Como eu estava andando depressa, achei que ele estivesse incomodado apenas com o meu jeito apressado de prosseguir viagem. Notei mesmo pela mudança da brisa. Em outras palavras, pertencer a uma raça poderosa é fazer muito escândalo, não acha?

Cordas tentou manter o senso de humor raro que tentava ter nessas horas. Mas pensou consigo mesmo:

— Mas que merda! Os estudos me consumiram tanto que eu esqueci que dias atrás eu havia despistado ela. E agora? como vou fazer pra ela sair do meu pé?

Cordas reflete em seus pensamentos.Em seguida, fala para a Lullaby:

—  Parta imediatamente. Prometo não levantar minha arma contra você, criatura!

— Hunter, como é ingênuo.Além do mais, eu tenho nome, sabia? Belthias está louca pra saber como você pode tentar ME CAÇAR!

Sua emoção na fala a fez mirar sua arma que se assemelha a uma Shotgun com detalhes que só as Lullabys apreciam em suas armas. Definitivamente, a estética das armas das criaturas é uma mistura surreal de traços alienígenas e angelical, desde engenhocas acopladas e desenhos ou até mesmo asas de origem desconhecida. Não hesitou em descarregar alguns tiros no Hunter. Esse já teve de se movimentar mais rápido para não ser atingido no peito.

—  Belthias, você não perde tempo, hein? Mirando logo no coração?—  Cordas retrucava, quando conseguia alcançar os pés no chão após alguns pulos para desviar, e se preparando para mais esquivas de longas distâncias.

— Meu bem, pra que atirar na sua cabeça primeiro, se o coração pode mandar mais rápido a informação que você será meu escravo particular? É engraçado como vocês funcionam e reagem perante nosso poder! —  Belthias ri quanto responde, esforçando-se para mirar  o Hunter que, apesar de grande e pesado, possui uma movimentação digna de um Alone Howl.

— Eu não precisava de mais nada! —  Cordas pragueja a si mesmo — Justo hoje que eu estou com uma pressa dos infernos, eu tinha de trombar essa desgraçada? Isso vai atrasar um pouco meus planos. Além disso, não posso deixar ela desconfiar do que eu carrego na mochila e que tampouco eu sei daquilo!

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Gipsy se dirigia à dispensa e, em seguida, a sua geladeira. Ela estava com seus dias contados, pois tentava a todo custo, como um troço velho, gelar ou conservar os alimentos. Além disso, o Egocon que servia como fonte de energia "elétrica" desses aparelhos estava no fim; fazia tempo que o Hunter não caçava e estocava essa fonte provenientes das Lullabys. No caso da geladeira piscar sua luz e mal funcionar, é porque ela realmente estava sofrendo um grave problema de junta...
Ele tinha a péssima mania de abrir a geladeira quando saia do banho pra tomar uma água gelada. De toalha na cintura que se estendia até depois dos joelhos, e uma toalha menor de rosto em volta do pescoço, deixando um lado maior cair sobre seu peito esquerdo, escondendo uma estranha marca. Escondia, talvez, do espelho e de si mesmo. Cruzava seu barraco, fazendo uma das poucas antigas rotinas que ainda insistia permanecer naquela figura: seu cabelo até o pescoço, definidos com mechas pontudas para trás, servindo como um caminho único para as gotas d´água que escorriam para  o seu corpo definidamente riscado, nada exagerado em seu físico. Não era gordo nem magro: era um corpo preparado para batalhas. Ultimamente deixava a barba por fazer, deixando-o com um ar de desleixado.
Molhado desse jeito, e abrindo sua velha geladeira, sabia que cedo ou tarde seria surpreendido  por um resfriado daqueles. Mas ele nem se importava mais com isso. Nem com o nariz congestionado. Nem com o ar seco e áspero do deserto. E nem com a combinação terrível dos dois.
O telefone movido a escassa energia do Egocon deu o ar da graça. Gipsy quase se engasgou com a água pelo susto que levou.
A quanto tempo não havia uma chamada? Ele não lembrava mais.
Deixou a garrafa em cima da escrivaninha, instintivamente segurou a toalha de rosto repousado no pescoço por um dos lados e atendeu. Do outro lado da linha:

— Alô! É do grupo profissional de caça DeepSea?

— Estamos fora de serviço, chapa. Por tempo indeterminado.

—Quem é que está falando?

—...Gipsy. Olha, não adianta insistir, não est...

— O líder do grupo? Melhor ainda. Preciso falar urgente com você.

—Tá difícil de entender ou você quer que eu desenhe? Não estamos pegando trab...

—Creio que você conhece Greenglasses. Ele é do seu grupo, certo?

—Hmm..é...ele...er....eu conheço ele. Por que?

—Então é melhor você vir correndo aqui para a Match Tide Village. Seu amigo foi atingido gravemente por uma Lullaby...







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