Capítulo 8 : دروغ
— Magister, Magister!
— ...
— Xiii...será que o Magister...?
— Vai, dá um cutucão nele!
— Tá louco, é? E se for uma armadilha para me atingir?
— Ele está ali, paralisado, não vai fazer nada! Vamos, Ward, agora é a sua chance!
— MAAGISTEEER!!!
— ...
— Xiii...será que o Magister...?
— Vai, dá um cutucão nele!
— Tá louco, é? E se for uma armadilha para me atingir?
— Ele está ali, paralisado, não vai fazer nada! Vamos, Ward, agora é a sua chance!
— MAAGISTEEER!!!
O menino Ward ataca seu mestre com uma espada de madeira, usado de forma comum em seu treino. Com nove anos, ele é um aspirante a Hunter.
O grito do aprendiz, correndo em direção ao seu mestre, almejando um golpe certeiro, é exageradamente empolgado e barulhento, por culpa do péssimo conselho que seu amigo - um outro garoto da mesma idade de Ward que também está em treinamento - faz com que o Magister saia de seus pensamentos à tempo, aplicando um golpe de correção.
— Muito lento, Ward!
O homem rapidamente bloqueia de forma sutil o ataque do menino com uma outra espada de madeira, fazendo com que este perca o equilíbrio para frente, tropeçando e procurando apoio. O Magister então se desloca para trás do menino e o ataca de forma leve, mostrando que recebeu um golpe fatal, caso fosse uma luta de verdade.
— Lento, lento demais. terá de ser menos escandaloso, se quiser ter alguma vantagem sob aquela raça, pequeno Ward! — Gipsy dá uma risada simpática.
— Muito lento, Ward!
O homem rapidamente bloqueia de forma sutil o ataque do menino com uma outra espada de madeira, fazendo com que este perca o equilíbrio para frente, tropeçando e procurando apoio. O Magister então se desloca para trás do menino e o ataca de forma leve, mostrando que recebeu um golpe fatal, caso fosse uma luta de verdade.
— Lento, lento demais. terá de ser menos escandaloso, se quiser ter alguma vantagem sob aquela raça, pequeno Ward! — Gipsy dá uma risada simpática.
— Não me chame de pequeno, Magister! Eu já tenho quase dez anos!
— E por um acaso você acha que é uma idade próxima a se tornar um adulto?
— Mas é claro, Magister! — Responde Ward com grande entusiasmo.
— Então deveria dar menos atenção aos conselhos errados que seus amigos lhe dão e ataque quando se sentir confiante para um golpe certeiro! — Diz Gipsy, fazendo cara de deboche e falso desprezo, para provocar risos e a reflexão do próprio Ward. O menino ri envergonhado, porém não tanto quanto seus amigos (praticamente da mesma idade), onde juntos compõe uma turma que treinam para ser Hunters no futuro.
Gipsy é um Magister em uma pequena região um pouco distante do seu Q.G., onde ensina pequenos jovens a se tornarem Hunters. Em outras palavras, ele trabalha para uma organização que, segundo as lendas d´ela mesma, existe à centenas de anos, que defende e aplica a crença do extermínio das Lullabys. Não se sabe quem são os verdadeiros "cabeças" dessa organização. Neste vasto deserto que é o mundo, os únicos vistos perambulando e se mexendo na superfície como "meros peões" são os Hunters. É de fato desconhecido se há uma hierarquia secreta, mas com certeza é algo que já tomou sua proporção considerável no planeta, se fortificando apenas com o jeito de pensar e agir de cada Hunter que tem a missão inata de destruir as Lullabys. Sua pedagogia e conduta é difusa, não havendo documentos que provem que, de fato, exista.
Anos atrás, assim que um Hunter de rosto desconhecido por baixo de um capuz entregou à ele a Midnight Sun pelo seu nível alcançado (reconhecido como um Alone Howl), Gipsy sabia exatamente a sua missão. Tinha a plena certeza de quem era e o que faria, após sua queda e ascensão. Mas seu passado consistia em um dos muitos turbilhões de acontecimentos. Agora seu coração não sentia mais certeza de nada...
Nestes últimos meses, Gipsy se encontrava em silêncio, quieto, divagando, não conseguindo evitar mesmo na frente de seus pupilos. Alguns segundos em órbita, que ele mesmo não sabia explicar pra onde sua mente viajava. Quando Ward o atacou, ele estava exatamente nesse momento, que ficavam cada vez mais frequentes.
— Garotos! Treinem em suas Gardens os movimentos oito, nove e dez e, em seguida, os três em conjunto. Na próxima semana, aprenderão novos ataques.
— Magister, Magister! — Um garoto levanta a mão.
— Sim?
— Quando teremos aula de tiro ao alvo?
— Cid, quantas vezes tenho de repetir? Só terão essa aula quando completarem maior idade! Eu não entendo por que tanta pressa em ter aulas de armas secundárias, sendo que nesta idade que estão praticamente todos vocês são imunes aos poderes e ataques de Lullabys...! Coloquem isso de uma vez por todas na cabeça: vocês só serão ameaça para elas e se tornarão alvos dessas criaturas quando se tiverem maior idade. Além do mais, armas de projéteis são muito perigosas. Até batalharem oficialmente com uma, vocês já terão habilidades para ganhar. Eu prometo!
Foi neste momento em que surgiu, na superfície do mundo, uma mentira...
— Magister! É verdade que as balas do seu revolver é diferentes dos demais?
— Hmm...sim.
— E que são muito boas contra Lullabys? — Outro pupilo pergunta.
— ...É, é sim! — Gipsy divaga um pouco, só pra fazer graça.
— Mas as balas são de origem "lulabálicas"? — O do fundo levanta a mão e faz a questão.
— É, seu bobo! Mas o Magister usa aquela energia delas, o Lego Con...
— É Egocon, Rock! — corrige Gispy.
— O Magister pediu para um amigo dele montar um troço na arma que deixa ele usar os tiros desse jeito, não é? — Outro aluno pergunta, olhando para o seu mestre procurando aprovação.
— Sim, eu tenho um amigo que me ajudou a projetar um dispositivo e outro amigo que entende das substâncias do Egocon, e isso faz com que eu tenha mais tiros e, consequentemente, mais chances!
— Magister, então isso funciona da mesma maneira quando usamos o antídoto criado do próprio veneno das serpentes do deserto? — Um pupilo mais velho pergunta.
— Yeah, podemos colocar as coisas dessa forma, Gih! — Responde o homem.
E tantas outras perguntas foram feitas. As velhas histórias que o grupo gosta de ouvir sobre batalhas foram novamente contadas. Os contos foram avançando, e logo chegou a hora de todos irem embora. O Treino daquele dia havia cessado por completo. Quando o grupo dispersou e a maioria dos pupilos já tinham ido embora, três garotos se aproximaram de Gipsy:
— Magister, precisamos falar com o senhor um instante. É sobre o Ward.
— O que tem ele?
— Ele pegou, não sei como, a mais recente lista das Lullabys procuradas e, apesar do nível delas ser pequeno em comparação às mais fortes e perigosas, é muito arriscado.
— É arriscado ele ter um folheto de ranking de Lullabys? — Gipsy faz uma careta.
— Sim, Magister! Ele revelou para nós que vai caça-las escondido. E mais: Ward quer caçar quatro. Isso mesmo: QUATRO LULLABYS!
— Hum... isso é preocupante... — Gipsy faz uma expressão severa — Conversarei com ele. Podem ficar tranquilos.
Quando o mestre se afasta, um dos três pupilos destila o veneno para os demais:
— Espero que Ward se dê mal! Ele é muito metido e prepotente!...
****************************************************
Ward caminha em direção a sua Garden. É uma jornada razoavelmente demorada. A escuridão da noite é mais profunda do que a luz do por-do-sol que luta incessantemente para permanecer mais tempo que pode naquela região. Gipsy o alcança antes mesmo da noite tomar os céus do deserto.
— Ward, espere!
— Ma...Magister? O que houve?
— Nada de mais. Hoje eu vou fazer um caminho diferente, e acho que pegarei a mesma direção que a sua. Se importaria se eu te acompanhasse? — Gipsy aponta pra frente, com o braço dobrado perto do corpo, com um sorriso miscroscopicamente sarcástico no rosto, caminhando e convencendo sutilmente o garoto para caminharem juntos.
— ...Tudo bem! — Responde Ward, meio encabulado pelo repentino pedido de seu mestre.
— Ward, você sabe que eu não levo jeito pra ficar rodeando assuntos sérios. Precisava falar com você.
— Sim, Magister, eu já imaginava coisa do tipo. Mas não faço ideia do que poderia ser...
— Eu fiquei sabendo das suas pretensões...
— Prete...o que?
— Suas vontades. Sobre o que você pretende fazer.
— ...? O que seria? Eu mesmo não sei do que...
— O número quatro e o nome Lullaby te lembra uma certa aventura que planeja realizar?
O menino pára de caminhar. De certo, tomou um susto. Fez um rápido mapa mental e logo achou quem o poderia ter dedurado. Esbravejou:
— Aqueles...Aqueles Relentos!
— Epa, vamos com calma!
— E não são? — Ward fica irritado — Com esse tipo de atitude, dedurando meus planos, devem viver num lugar pobre de sentimentos e educação!
— Ward, por um acaso você já foi até a Garden de cada um deles pra fazer esse tipo de acusação?
— Isso não importa. Todos nós sabemos que muitas, vistas de fora, mantém a mágica de mostrar que é bela e perfeita. Só quando o garoto entra, é que sua dimensão e realidade é mostrada. Aposto que são mais frágeis do que papelão e feias como origamis embebidos em café!
— Ward! Se eles são ou não Relentos, não é essa a questão, por ora. Eu quero saber — Gipsy pára na frente do garoto e cruza os braços, fazendo uma expressão séria — Isso é verdade?
O pupilo abaixa a cabeça. Demora alguns segundos e afirma, balançando-a.
— Caramba! Mas quatro Lullabys, Ward? — O homem pergunta, incrédulo.
— Ah, hm...É que...
O menino envergonha-se. Se perde em pensamentos em branco. Ele, diferente do que seus amigos acham dele, é um garoto bom e esforçado. Procura empenhar da melhor forma e almeja ser um exímio Hunter, feito seu mestre, para ser o orgulho do deserto, do seu Magister, para sua Garden, para si. Para o mundo. A frase do seu mestre o bateu fria, congelante e dolorosa feito uma grande onda de um oceano glacial. Talvez Gipsy nem notou o que seu pupilo sentiu ou, se sim, fez de propósito pois, logo em seguida, completou:
— Caçar quatro Lullabys é errado. Você precisa caçar é mais quatro! Tenha oito Lullabys em seu objetivo, logo de cara!
Ward não sabia como reagir diante do que foi dito. Soube apenas fazer cara de espantado, arregalando os olhos:
— S...Sé...Sério isso, Ma- Magister?
— Nunca falei tão sério na minha vida.
— O...obrigado, Magister!!! — Resplandeceu um grande brilho nos olhos do pequeno, mostrando um largo e belo sorriso.
— mas, por enquanto, isso é um pouco cedo. Você precisa se preparar. Não pule na cova dos leões com esse nível, pois é suicídio. Mas treine arduamente para você voltar, das oito caças ileso, quando tiver idade pra isso. Mais uma coisa: promet que você jamais contará aos seus amigos que tive essa conversa contigo.
Nesta hora, enquanto uma face mais limpa evoluía e crescia com tamanha alegria que tomava o coração de um ser na superfície do mundo, no mesmo instante, na mesma conversa, nascia um outro ser mentiroso.
****************************************************
Mestre e pupilo chegam enfim na Garden do menino. Já é noite e só as estrelas e a lua são companhias brilhantes no céu. Na mão de Gispy, uma bugiganga que mais se parece com uma ótima lanterna, porém muito comum neste mundo. O mestre repara que a Garden do menino é pequena, mas segue o padrão de jardins que possuem aproximadamente este tamanho. No entanto, há nesses pequenos muitas armadilhas e uma áurea severa e algumas vezes agressiva quando aproxima estranhos.
Ward se aproxima e entra em sua Garden. Em seguida, fala:
— Magister, entre e fique mais um pouco...!
— Agradeço o convite, Ward. Mas eu preciso mesmo ir.
— Tudo bem! Sei que o Magister tem coisas mais importantes para resolver. Mas espere um momentinho só. Preciso fazer uma coisa.
Ward sai correndo para dentro do jardim, mas ainda está próxima à entrada, onde Gipsy o observa curioso.
O menino levanta a cabeça e fecha os olhos. Afasta levemente os braços e mãos, com a palma virada pra cima. Ele facilmente estabelece a Ressonância.
O homem, por um momento, se encanta de verdade. Aquela energia invisível, que cria uma leve brisa em torno do garoto, balançando suavemente suas mechas de cabelo e faz surgir ondulações em sua roupa, é entorpecidamente nostálgico. Ward até parece que flutua a pouquíssimos centímetros do chão!
Gipsy lembra da sua infância e sente uma angústia no peito. Isso remete a uma lembrança da sua inocência origem e o leva até o estado atual da sua Garden. De boca fechada, range os dentes pela realidade o castigar. Escolhe se odiar assim que essa visão cessar. Por enquanto, escolhe admirar algo que ele não tem mais...
Em poucos instantes, ergue-se lentamente uma enorme e grossa raiz do chão, perto da entrada, ainda do lado de dentro do jardim. Ward vira o rosto para o seu mestre e sorri, de forma singela. Da entrada, Gipsy retribui o sorriso, de uma forma um pouco sem graça.
Uma violenta pancada, de um vulto rápido, que saiu do jardim, quebrando quase a barreira do som, acerta em cheio o rosto do homem, arremessando-o a muitos metros, rodopiando no ar antes de encontrar desastrosamente o chão.
Primeiro, tentou raciocinar se sua cabeça ainda fazia parte do corpo. E demorou pra chegar na óbvia conclusão que, se conseguiu pensar, é porque a cachola continuava no mesmo lugar. A surra que levou do vulto afetou sua visão, audição e seu tato gritava pela dor que sentia.
Levantou zonzo do chão empoeirado do deserto, com os olhos estagnados, quase em choque, colocando a mão na arma, enquanto ouvia um "tuim" que ecoava no seu cérebro.
Ward corre na direção do seu mestre e o ajuda a levantar:
— M-mas o que foi isso, Ward? Que porcaria que me acertou?
— A raiz, Magister! A raiz...eu...eu não compreendo...
— A ra...q-que raiz?
— A da minha Garden! Aquela...
A raiz mantinha parte do seu corpo no chão e a outra suspensa, como uma cobra peçonhenta pronta para dar o bote. Ward a encarava com um rosto assustado e perdido. Não compreendia o que acontecera.
— Você iniciou a Ressonância com a sua Garden minutos antes.O que você disse à ela? — Gipsy pergunta em meio ao seu raciocínio ainda confuso.
— Eu apenas disse que você está me apoiando na minha escolha como Hunter e que você aconselhou-me a caçar oito Lullabys, ao invés de quatro.
Gispy volta os olhos pro jardim. Desconfia de algumas coisas, mas nada diz. Prefere pensar nisso no caminho de volta.
— Achei que minha Garden ficaria feliz ao saber dessa notícia. — O menino continua confuso.
O homem faz uma careta severa, expressando uma confusão mental ainda mais que a de Ward.
Gipsy se recupera e resolve partir. Despede-se de seu pupilo e começa a caminhar. No caminho, de forma invisível, ele vai se transformando. O Magister dá lugar a um homem melancólico, amargo e vazio. Este sim, reconhece as próprias mentiras que andou dizendo nos últimos meses, e não sabe nem se pode acreditar mais em si mesmo.
Por um lado, pensa em abandonar tudo.
Por outro, acredita em passar o máximo de conhecimento para seus pupilos antes que a morte dê conta da sua vida.
Entretanto, Gipsy passa por denso período de descrença, onde acha que qualquer caminho que percorra ou atitude que tome o levará para a ruína.
Neste caso, então, qualquer mentira não fará a menor diferença...
— Mas é claro, Magister! — Responde Ward com grande entusiasmo.
— Então deveria dar menos atenção aos conselhos errados que seus amigos lhe dão e ataque quando se sentir confiante para um golpe certeiro! — Diz Gipsy, fazendo cara de deboche e falso desprezo, para provocar risos e a reflexão do próprio Ward. O menino ri envergonhado, porém não tanto quanto seus amigos (praticamente da mesma idade), onde juntos compõe uma turma que treinam para ser Hunters no futuro.
Gipsy é um Magister em uma pequena região um pouco distante do seu Q.G., onde ensina pequenos jovens a se tornarem Hunters. Em outras palavras, ele trabalha para uma organização que, segundo as lendas d´ela mesma, existe à centenas de anos, que defende e aplica a crença do extermínio das Lullabys. Não se sabe quem são os verdadeiros "cabeças" dessa organização. Neste vasto deserto que é o mundo, os únicos vistos perambulando e se mexendo na superfície como "meros peões" são os Hunters. É de fato desconhecido se há uma hierarquia secreta, mas com certeza é algo que já tomou sua proporção considerável no planeta, se fortificando apenas com o jeito de pensar e agir de cada Hunter que tem a missão inata de destruir as Lullabys. Sua pedagogia e conduta é difusa, não havendo documentos que provem que, de fato, exista.
Anos atrás, assim que um Hunter de rosto desconhecido por baixo de um capuz entregou à ele a Midnight Sun pelo seu nível alcançado (reconhecido como um Alone Howl), Gipsy sabia exatamente a sua missão. Tinha a plena certeza de quem era e o que faria, após sua queda e ascensão. Mas seu passado consistia em um dos muitos turbilhões de acontecimentos. Agora seu coração não sentia mais certeza de nada...
Nestes últimos meses, Gipsy se encontrava em silêncio, quieto, divagando, não conseguindo evitar mesmo na frente de seus pupilos. Alguns segundos em órbita, que ele mesmo não sabia explicar pra onde sua mente viajava. Quando Ward o atacou, ele estava exatamente nesse momento, que ficavam cada vez mais frequentes.
— Garotos! Treinem em suas Gardens os movimentos oito, nove e dez e, em seguida, os três em conjunto. Na próxima semana, aprenderão novos ataques.
— Magister, Magister! — Um garoto levanta a mão.
— Sim?
— Quando teremos aula de tiro ao alvo?
— Cid, quantas vezes tenho de repetir? Só terão essa aula quando completarem maior idade! Eu não entendo por que tanta pressa em ter aulas de armas secundárias, sendo que nesta idade que estão praticamente todos vocês são imunes aos poderes e ataques de Lullabys...! Coloquem isso de uma vez por todas na cabeça: vocês só serão ameaça para elas e se tornarão alvos dessas criaturas quando se tiverem maior idade. Além do mais, armas de projéteis são muito perigosas. Até batalharem oficialmente com uma, vocês já terão habilidades para ganhar. Eu prometo!
Foi neste momento em que surgiu, na superfície do mundo, uma mentira...
— Magister! É verdade que as balas do seu revolver é diferentes dos demais?
— Hmm...sim.
— E que são muito boas contra Lullabys? — Outro pupilo pergunta.
— ...É, é sim! — Gipsy divaga um pouco, só pra fazer graça.
— Mas as balas são de origem "lulabálicas"? — O do fundo levanta a mão e faz a questão.
— É, seu bobo! Mas o Magister usa aquela energia delas, o Lego Con...
— É Egocon, Rock! — corrige Gispy.
— O Magister pediu para um amigo dele montar um troço na arma que deixa ele usar os tiros desse jeito, não é? — Outro aluno pergunta, olhando para o seu mestre procurando aprovação.
— Sim, eu tenho um amigo que me ajudou a projetar um dispositivo e outro amigo que entende das substâncias do Egocon, e isso faz com que eu tenha mais tiros e, consequentemente, mais chances!
— Magister, então isso funciona da mesma maneira quando usamos o antídoto criado do próprio veneno das serpentes do deserto? — Um pupilo mais velho pergunta.
— Yeah, podemos colocar as coisas dessa forma, Gih! — Responde o homem.
E tantas outras perguntas foram feitas. As velhas histórias que o grupo gosta de ouvir sobre batalhas foram novamente contadas. Os contos foram avançando, e logo chegou a hora de todos irem embora. O Treino daquele dia havia cessado por completo. Quando o grupo dispersou e a maioria dos pupilos já tinham ido embora, três garotos se aproximaram de Gipsy:
— Magister, precisamos falar com o senhor um instante. É sobre o Ward.
— O que tem ele?
— Ele pegou, não sei como, a mais recente lista das Lullabys procuradas e, apesar do nível delas ser pequeno em comparação às mais fortes e perigosas, é muito arriscado.
— É arriscado ele ter um folheto de ranking de Lullabys? — Gipsy faz uma careta.
— Sim, Magister! Ele revelou para nós que vai caça-las escondido. E mais: Ward quer caçar quatro. Isso mesmo: QUATRO LULLABYS!
— Hum... isso é preocupante... — Gipsy faz uma expressão severa — Conversarei com ele. Podem ficar tranquilos.
Quando o mestre se afasta, um dos três pupilos destila o veneno para os demais:
— Espero que Ward se dê mal! Ele é muito metido e prepotente!...
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Ward caminha em direção a sua Garden. É uma jornada razoavelmente demorada. A escuridão da noite é mais profunda do que a luz do por-do-sol que luta incessantemente para permanecer mais tempo que pode naquela região. Gipsy o alcança antes mesmo da noite tomar os céus do deserto.
— Ward, espere!
— Ma...Magister? O que houve?
— Nada de mais. Hoje eu vou fazer um caminho diferente, e acho que pegarei a mesma direção que a sua. Se importaria se eu te acompanhasse? — Gipsy aponta pra frente, com o braço dobrado perto do corpo, com um sorriso miscroscopicamente sarcástico no rosto, caminhando e convencendo sutilmente o garoto para caminharem juntos.
— ...Tudo bem! — Responde Ward, meio encabulado pelo repentino pedido de seu mestre.
— Ward, você sabe que eu não levo jeito pra ficar rodeando assuntos sérios. Precisava falar com você.
— Sim, Magister, eu já imaginava coisa do tipo. Mas não faço ideia do que poderia ser...
— Eu fiquei sabendo das suas pretensões...
— Prete...o que?
— Suas vontades. Sobre o que você pretende fazer.
— ...? O que seria? Eu mesmo não sei do que...
— O número quatro e o nome Lullaby te lembra uma certa aventura que planeja realizar?
O menino pára de caminhar. De certo, tomou um susto. Fez um rápido mapa mental e logo achou quem o poderia ter dedurado. Esbravejou:
— Aqueles...Aqueles Relentos!
— Epa, vamos com calma!
— E não são? — Ward fica irritado — Com esse tipo de atitude, dedurando meus planos, devem viver num lugar pobre de sentimentos e educação!
— Ward, por um acaso você já foi até a Garden de cada um deles pra fazer esse tipo de acusação?
— Isso não importa. Todos nós sabemos que muitas, vistas de fora, mantém a mágica de mostrar que é bela e perfeita. Só quando o garoto entra, é que sua dimensão e realidade é mostrada. Aposto que são mais frágeis do que papelão e feias como origamis embebidos em café!
— Ward! Se eles são ou não Relentos, não é essa a questão, por ora. Eu quero saber — Gipsy pára na frente do garoto e cruza os braços, fazendo uma expressão séria — Isso é verdade?
O pupilo abaixa a cabeça. Demora alguns segundos e afirma, balançando-a.
— Caramba! Mas quatro Lullabys, Ward? — O homem pergunta, incrédulo.
— Ah, hm...É que...
O menino envergonha-se. Se perde em pensamentos em branco. Ele, diferente do que seus amigos acham dele, é um garoto bom e esforçado. Procura empenhar da melhor forma e almeja ser um exímio Hunter, feito seu mestre, para ser o orgulho do deserto, do seu Magister, para sua Garden, para si. Para o mundo. A frase do seu mestre o bateu fria, congelante e dolorosa feito uma grande onda de um oceano glacial. Talvez Gipsy nem notou o que seu pupilo sentiu ou, se sim, fez de propósito pois, logo em seguida, completou:
— Caçar quatro Lullabys é errado. Você precisa caçar é mais quatro! Tenha oito Lullabys em seu objetivo, logo de cara!
Ward não sabia como reagir diante do que foi dito. Soube apenas fazer cara de espantado, arregalando os olhos:
— S...Sé...Sério isso, Ma- Magister?
— Nunca falei tão sério na minha vida.
— O...obrigado, Magister!!! — Resplandeceu um grande brilho nos olhos do pequeno, mostrando um largo e belo sorriso.
— mas, por enquanto, isso é um pouco cedo. Você precisa se preparar. Não pule na cova dos leões com esse nível, pois é suicídio. Mas treine arduamente para você voltar, das oito caças ileso, quando tiver idade pra isso. Mais uma coisa: promet que você jamais contará aos seus amigos que tive essa conversa contigo.
Nesta hora, enquanto uma face mais limpa evoluía e crescia com tamanha alegria que tomava o coração de um ser na superfície do mundo, no mesmo instante, na mesma conversa, nascia um outro ser mentiroso.
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Mestre e pupilo chegam enfim na Garden do menino. Já é noite e só as estrelas e a lua são companhias brilhantes no céu. Na mão de Gispy, uma bugiganga que mais se parece com uma ótima lanterna, porém muito comum neste mundo. O mestre repara que a Garden do menino é pequena, mas segue o padrão de jardins que possuem aproximadamente este tamanho. No entanto, há nesses pequenos muitas armadilhas e uma áurea severa e algumas vezes agressiva quando aproxima estranhos.
Ward se aproxima e entra em sua Garden. Em seguida, fala:
— Magister, entre e fique mais um pouco...!
— Agradeço o convite, Ward. Mas eu preciso mesmo ir.
— Tudo bem! Sei que o Magister tem coisas mais importantes para resolver. Mas espere um momentinho só. Preciso fazer uma coisa.
Ward sai correndo para dentro do jardim, mas ainda está próxima à entrada, onde Gipsy o observa curioso.
O menino levanta a cabeça e fecha os olhos. Afasta levemente os braços e mãos, com a palma virada pra cima. Ele facilmente estabelece a Ressonância.
O homem, por um momento, se encanta de verdade. Aquela energia invisível, que cria uma leve brisa em torno do garoto, balançando suavemente suas mechas de cabelo e faz surgir ondulações em sua roupa, é entorpecidamente nostálgico. Ward até parece que flutua a pouquíssimos centímetros do chão!
Gipsy lembra da sua infância e sente uma angústia no peito. Isso remete a uma lembrança da sua inocência origem e o leva até o estado atual da sua Garden. De boca fechada, range os dentes pela realidade o castigar. Escolhe se odiar assim que essa visão cessar. Por enquanto, escolhe admirar algo que ele não tem mais...
Em poucos instantes, ergue-se lentamente uma enorme e grossa raiz do chão, perto da entrada, ainda do lado de dentro do jardim. Ward vira o rosto para o seu mestre e sorri, de forma singela. Da entrada, Gipsy retribui o sorriso, de uma forma um pouco sem graça.
Uma violenta pancada, de um vulto rápido, que saiu do jardim, quebrando quase a barreira do som, acerta em cheio o rosto do homem, arremessando-o a muitos metros, rodopiando no ar antes de encontrar desastrosamente o chão.
Primeiro, tentou raciocinar se sua cabeça ainda fazia parte do corpo. E demorou pra chegar na óbvia conclusão que, se conseguiu pensar, é porque a cachola continuava no mesmo lugar. A surra que levou do vulto afetou sua visão, audição e seu tato gritava pela dor que sentia.
Levantou zonzo do chão empoeirado do deserto, com os olhos estagnados, quase em choque, colocando a mão na arma, enquanto ouvia um "tuim" que ecoava no seu cérebro.
Ward corre na direção do seu mestre e o ajuda a levantar:
— M-mas o que foi isso, Ward? Que porcaria que me acertou?
— A raiz, Magister! A raiz...eu...eu não compreendo...
— A ra...q-que raiz?
— A da minha Garden! Aquela...
A raiz mantinha parte do seu corpo no chão e a outra suspensa, como uma cobra peçonhenta pronta para dar o bote. Ward a encarava com um rosto assustado e perdido. Não compreendia o que acontecera.
— Você iniciou a Ressonância com a sua Garden minutos antes.O que você disse à ela? — Gipsy pergunta em meio ao seu raciocínio ainda confuso.
— Eu apenas disse que você está me apoiando na minha escolha como Hunter e que você aconselhou-me a caçar oito Lullabys, ao invés de quatro.
Gispy volta os olhos pro jardim. Desconfia de algumas coisas, mas nada diz. Prefere pensar nisso no caminho de volta.
— Achei que minha Garden ficaria feliz ao saber dessa notícia. — O menino continua confuso.
O homem faz uma careta severa, expressando uma confusão mental ainda mais que a de Ward.
Gipsy se recupera e resolve partir. Despede-se de seu pupilo e começa a caminhar. No caminho, de forma invisível, ele vai se transformando. O Magister dá lugar a um homem melancólico, amargo e vazio. Este sim, reconhece as próprias mentiras que andou dizendo nos últimos meses, e não sabe nem se pode acreditar mais em si mesmo.
Por um lado, pensa em abandonar tudo.
Por outro, acredita em passar o máximo de conhecimento para seus pupilos antes que a morte dê conta da sua vida.
Entretanto, Gipsy passa por denso período de descrença, onde acha que qualquer caminho que percorra ou atitude que tome o levará para a ruína.
Neste caso, então, qualquer mentira não fará a menor diferença...
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