quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Short Novel - Heróis de Areia ~Capítulo 7: изоляция

Capítulo 7: ИЗОЛЯЦИЯ

2 meses depois...

Escuro. O oxigênio está presente, mas com certeza no imenso deserto lá fora parece possuir mais. Alguém nesse breu respira, duvidando e questionando o próprio respirar.
Seus pensamentos pulam de pedras suspensas em pedras suspensas. Cada passo nesse jogo de obstáculos pra dentro do breu interno, o torna mais escuro. Consegue ser uma sombra mais profunda do que a escuridão que toma seu barraco de forma proposital.
Está sentado, olhando pra fora, mas enxergando apenas o seu lado de dentro.

Tudo está fechado. Sua casa. Ele.

A luz do sol intenso que adentra estuprando sua sala e seus olhos, junto com Glasses, que fora o responsável por abrir a porta e convidar a luz a entrar, lhe causa uma dor de cabeça e uma repulsa em ver o amigo. Greenglasses já olha Gipsy com pena, e um certo aborrecimento:

— Você pretende ficar assim até quando?

— ...

—Olha, tá cheio de Lullabys lá fora e você aqui. Isso..isso não faz sentido. Não é você! Simplesmente, não é você!

— ...

— Vamos! Pegue suas armas! Levantei a ficha de um possível grupo de Lullabys que estarão viajando e passarão algumas horas de viagem daqui. Se nos apressarmos, podemos...

— ...Não irei...

— Mas... Mas... E o Egocon? Você adora colecioná-lo pra fonte de energia, pra injetar em si mesmo e ficar mais forte contra elas. Se você parar de uma hora para outra , isso pode te atrofiar e...

—...Não preciso ficar mais forte.

— Sim, sabemos que você é autossuficiente contra elas, entretanto acredito que...

— Não preciso ficar mais forte porque não pretendo mais...

— Não pretende mais o que?

— ...

—Gipsy, que porcaria de crise é essa? Posso saber?!

— ...

—Onde está Cordas? Ele precisa vir aqui e te dar um ânimo...

— Não o vejo faz semanas. Meses, acho...

— O que aconteceu com ele?

— Não sei.

— Que legal! Agora mais essa! Bem quando estamos precisando de uma mão pesada na sua cara, o Cordas some!

Em todo o dialogo, Gipsy se manteve imóvel no sofá empoeirado de seu barraco. Não olhou para Greenglasses em nenhum momento. Seus olhos haviam se fechado ainda mais quando aquela luz de um dia agradável e quente havia adentrado na escuridão ao redor.
Glasses quase não sentia a presença do amigo ali, jogado. Apesar de sentado, numa postura que ainda carregava de um Hunter respeitado, se fechasse os olhos, diria que não há ninguém ali, exceto uma áurea negra de tristeza.

— Vai abandonar suas convicções, é isso?

—...

— Você, cara, você é importantes para os seus pequenos! Eles se espelham em você. Agora você vai deixar de fazer o que você acredita e abandonar o ensino para eles?

— Hunters existe em todo mundo. Basta um outro adotá-los e se comprometer a...

— Mas você é um Alone Howl!!!

—Dane-se! O que isso me traz!? Hã, diga-me! Nada serve pra resolver o que eu preciso resolver... E não são poucas coisas!

— E vai entregar os pontos, assim? Vai deixar mesmo as Lullabys destruírem por completo a comunicação do nosso mundo?

—...Sinceridade? Já estou farto dessa realidade. Elas não acabam. Derrubamos uma, aparecem mais cem! Se tornou sem graça o ato automático de atacar a maioria de forma fácil. Cansei dessa Ressonância que avança os dias com mais problemas de comunicação. Tô cansado dessa imensidão de areia e dessa secura do deserto! Tô cansado em andar em círculos. To cansado em não receber uma resposta decente. Me compreende agora, Glasses?

Levanta num impulso que assusta o amigo. Se posiciona na frente dele de forma rápida e movimentos fortes. Grennglasses percebe agora com clareza o estado deplorável que o rosto de Gipsy mostra a sua alma.

—Consegue ver aqui, Glasses? Consegue ver o que eu estou tentando te dizer, aqui, no fundo dos meus olhos? CONSEGUE VER? HÃ?

— Não, Gipsy. Não vejo nada. Não há nada dentro deles... Só vejo....um amargo vazio... Mais nada...

Encaram-se. Gipsy perde na disputa de quem foca melhor os olhos nos olhos do amigo.

— Vou te deixar descansando, nesse breu todo, que toma seu coração segundo por segundo. Cuide-se.

Greenglasses sai pela porta. Fecha quase sem barulho. Gipsy volta pra escuridão e seu sofá.
Reflete, enquanto tem tempo, no amadurecimento que seu amigo parece ter conquistado ao longo do processo de libertação após sua queda.
O reconhece, segundos antes de adentrar novamente, na profunda escuridão da sua mente...

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Gispy se pergunta repetidas vezes, as mesmas coisas. Acaba o arco de sofrimento, e sua mente e coração "reseta" só para começar tudo de novo. Vez ou outra consegue criar novas dúvidas. O gosto amargo de seu medo e ignorância  faz exalar por seus poros uma raiva contida em ver o mundo na terceira pessoa, sendo ainda em primeira, e não ter o poder de mudar seu destino.
Consegue arrumar uma força para sair do sofá e colocar suas armas em cima da mesa.
A Lúdica é uma espada que mistura a lâmina de uma katana grande, com um punho ligeiramente espanhol, com aros e fios que circundam e protegem a mão, substituindo a parte da guarda. Muito improvável de se imaginar ou mesmo forjar algo assim, entretanto é esse um dos pontos que a faz ter esse nome. Para os Hunters, só de olhar para ela, a visão que se tem é de que "aquela coisa" não existe. Carrega uma imagem que chama a atenção, mas ao mesmo tempo sutilmente desengonçada. Mas os atributos que nomeiam a arma não param por ai. Ela parece possuir uma essência mistica que remete aos poderes de uma Lullaby. São raras as armas que parecem possuir propriedades mágicas nesse mundo. "Parecem", pois nada foi provado até hoje.
A Lúdica é afiadíssima e faz um belo estrago em suas vítimas. Ao mesmo tempo que parece ser um deboche contra a própria raça que se assemelha em seus poderes: indica, muitas vezes, uma ofensa contra as próprias Lullabys. Mas só descobrem isso quando a luta acaba, e elas perdem.
Parceira dessa belezura em combates próximos, ele observa também a sua "ovelha negra" Rudder, considerada por ele dessa forma pois a arma faz par com sua irmã gêmea perdida, sendo assim uma das Peacemakers cobiçadas por Hunters. Seu manuseio é exemplar e atira com uma precisão incrível! Procurou até um amigo na ocasião pra modifica-la em seus projéteis. Gypsy não faz idéia qual o nome da arma irmã, e também não revela como a conseguiu. Só se sabe que até um tempo atrás estava com uma ideia fixa de querer achar a outra à todo custo, e que só Quatrocordas sabia que seu amigo havia conseguido a pistola e a espada meses após a luta de vida ou morte que Gipsy tivera no passado com uma Lullaby.
Provavelmente, se tivesse em sua posse a Lúdica e a Rudder na ocasião passada, estaria no Rank de Hunters que nunca foram atingidos por essas criaturas. Mas não é o caso de Gipsy, infelizmente...
Além do mais, existe uma crença entre os Hunters que faz jus à frase comumente usada por eles: " Cada Hunter tem a(s) arma(s) que merece". Significa que há uma áurea sobrenatural nessa fé entre eles. De forma nua e crua, podemos afirmar que possuir um nível Alone Howl está inteiramente ligada à facilidade que a(s) arma(s) criam para o Hunter chegar neste patamar.
Mas não é só isso. A crença desse mundo bem diz que, as armas para caçar Lullabys, embora não sejam organismos vivos e nem há provas de que são mágicas, elas escolhem  de algum modo seus portadores. As vezes para ajuda-los à crescer. Outras vezes, para ensina-los algo. A fé desses pobres homens criou um jeito de evoluir, lento e gradativo.
Talvez, no final de suas vidas, isso faça toda a diferença...

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Gipsy reflete um pouco nas armas de seus companheiros e o poder assombroso que eles tem em conjunto, cada qual com a sua. Depois, pensa sobre o poder que todos (ele, Cordas, Glasses, Vanitas) já tiveram em conjunto com o grupo DeepSea formado. Por fim, se lamenta...
Lamenta, pois, sabe que ele, o Q.G. é a ponte; a conexão entre seus amigos. Mas já é tarde demais. Gipsy facilitou a fragmentação não só do grupo todo como também aos poucos distanciou seus colegas e distanciou-se de si mesmo.
Lamenta, pois a escuridão do seu coração está maior. E tudo isso agora faz parte do mais tenebroso tempo presente...









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