quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Short Novel - Heróis de Areia ~ Capítulo 1: Iter


Capítulo 1: ITER

4 Meses atrás...

Para longas viagens, ele sempre veste o seu chapéu preto. Nunca se sabe quando entrará em ação. Caçador habilidoso, vive improvisando, mesmo saindo preparado para adversidades. Seus olhos fitam a si mesmo na frente do que sobrou de um lindo espelho. Desta vez usa uma blusa apertada no corpo e solta nos braços e nas mangas. Se encontra dentro de um barraco de madeira, cheio de pó e areia, com seus móveis devidamente organizados em seu canto e seus objetos devidamente desorganizados por todo lugar. Um dos seus pés demonstrava uma inquietação interior, batendo a bota negra cheia de fivelas naquele assoalho podre de madeira.

Quatrocordas o observava, de pé, no quarto daquela bagunça espaçosa:

— Nervoso com a viagem?

— ...

—Vai dar tudo certo. Mas daqui pra frente, terá de ser ainda mais forte!

Gipsy ainda se fitava no espelho. Queria responder de imediato ao amigo, mas as palavras fugiam de sua mente. Pegou sua insignia e colocou na copa, do lado direito do seu chapéu.

— Além do que irá fazer nesta viagem, pretende caçar também?

—Não sei — Finalmente Gipsy conseguiu dizer algo, seguido de dúvida: "Por que?"

— Está levando sua Midnight Sun — Quatrocordas aponta para o broche no chapéu do parceiro, enquanto abre uma garrafa de Sand Beer na quina da mesa. Gipsy continua olhando-se no espelho, entretanto parou de bater o pé. Enquanto isso, o amigo continua:

— Se não pretende caçar, coisa que eu acho difícil, por que leva a insignia consigo? É pra chamar brigas ou evita-las?

— Costume. Apenas isso.

— Você é um convencido! Mas tem esse direito, senão jamais seria portador desse broche. Ah, como meu amigo é demais!

— Vai se ferrar, Quatrocordas! Você sabe que eu não sou ninguém sem vocês. Sem o DeepSea...

— Você é o que você é, independente de nós ou do grupo de Hunters.

— Porém minhas caças são geralmente solitárias e sozinhas. E faço uso do Egocom o que eu bem entender. Mas, de alguma forma, vocês me dão força...

— Sim, cada um coleciona o Egocom e e administra da forma que achar mais conveniente. E é ótimo sabermos que somos útil a ti. Você precisará muito dessa força daqui pra frente.

Gipsy fica pensativo. Por fim, desabafa:

— Com tanta coisa que se pode criar a partir dessa energia do Egocom, o que passamos dia após dia pra consegui-la, e ainda não parece diretamente suficiente pra salvar alguém...

Instala-se um silêncio. Resquícios do ranger da madeira do assoalho inicia um novo assunto entre os dois Hunters. O ato repentino é iniciado por Gipsy:

—  Onde diabos se meteu Greenglasses? Só queria avisa-lo que estaremos fora esses dias e se ele poderia ficar de olho aqui no Q.G. ...

— Nada sei sobre o diabo, mas se quiser saber do Glasses, ele está vindo ai — Disse Quatrocordas, espiando despretensiosamente a janela, segurando com sua gigantesca mão esquerda a garrafa que já estava no fim.
Greenglasses foi entrando no Q.G. e prontamente os cumprimentou de forma educada:

— Boa noite, senhores, como vocês est...? Ué, o que é isso? Malas? Pra onde vamos?

— Não sei pra onde você vai, mas eu vou ficar fora esses dias. Quatrocordas irá me acompanhar. Teria como você ficar sob vigília até eu voltar?

— Ahm, sim, claro... Sem problemas! — Responde Glasses.— Mas quantos mantimentos! Vai ficar fora um mês?

— Não é pra mim — Diz Gipsy, enquanto amarra as trouxas de suprimentos.

— E pretendem irem andando com isso? Vocês não irão muito longe se carregarem isso sozinhos e...

—  Iremos de Train Oasis...

De novo, um novo silêncio. Desta vez, constrangedor. Quatrocordas e Gipsy entreolham-se esperando qualquer reação de GreenGlasses. Poderia ter sido pior: ele levantou as duas sobrancelhas, afirmou com a cabeça, mas logo em seguida fechou a cara, cruzou os braços e ficou com os olhos perdidos. Disse apenas: "Divirtam-se!". O homem de chapéu preto voltou-se para as sacolas e malas e fez uma contagem regressiva de três à zero, mentalmente. Ao término dessa, Glasses começa com as perguntas:

— Muito bem, muito bem...E que horas vão?

— Daqui a pouco.

— Vocês "negociaram" a passagem?

— Não, iremos de forma clandestina assim que o trem passar.

— Ela passará aqui?

— Não, sabemos por onde seu trem irá cruzar. É perto daqui...

— E você pretende, sei lá, ir até a cabine da maquinista pra...

— Glasses, me ajuda aqui com isso? — Adianta Quatrocordas, quebrando o diálogo entre ele e Gipsy, e jogando uma mala pesada nos braços de Glasses.

— Não tenho intenções de enfrenta-la. — Responde finalmente o moço de chapéu preto.

— Ah, vá, Gipsy! Até parece que, se ela quiser duelar contigo, você irá recusar? Te conheço: vai atacar sem dó nem piedade!

— Farei com que a Lullaby nem perceba a minha presença. — Gipsy diz após um grande suspiro, erguendo as sacolas no alto do peito, indo em direção à porta. — Me ajuda aqui, Glasses!

Os três partem e caminham uns vinte minutos pela área do extenso deserto. Já é noite e as estrelas são os destaques do céu azul turquesa que faz um lindo degradê de seus tons mais claros no horizonte. Gipsy pára e diz:

— É aqui. Se meus cálculos não estiverem errados, hoje a máquina infernal Train Oasis passará por esse ponto, dando às costas neste lugar, onde laçaremos um dos vagões e conseguiremos nossa carona gratuita. Para isso, precisamos nos esconder atrás daquele amontoado de rochas e laça-lo assim que virar para o Sul...

O homem de chapéu preto ouve o atrito de passos se distanciando. Vira para trás e percebe que Greenglasses já está indo embora, e nem fez questão de prestar atenção no plano mirabolante.

— Não vai esperar a gente partir? — Pergunta Quatrocordas.

— Não mesmo! Não tenho estômago ainda pra encarar aqueles faróis, tampouco a maquinista.

Gipsy dá de ombros:

— Você é quem sabe.

Seguindo o caminho de volta, e sem se virar para os dois homens com as bagagens, Glasses diz:

— Mande meu "olá" para ela, caso você resolva caça-la!

Gipsy e Quatrocordas não souberam dizer se havia sido um comentário irônico ou não...

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O trem, como o moço do chapéu mesmo disse, passou por ali perto, levantando uma grande poeira no deserto. Vira-se de costas e segue para o horizonte ainda iluminado pelo Sol insistente. Os dois trataram de lançar seus equipamentos no instante que a máquina virou e, por pouco, suas cordas quase não alcançam o vagão.
Deslizar pelo deserto agarrado ao trem por cordas e ganchos trouxe à Gipsy uma sensação momentânea de felicidade e adrenalina. Porém, foi só subir no topo do vagão que sua mente entrou novamente em estado de profunda reflexão.
Quatrocordas sorria sutilmente, compreensivo por parecer saber o que se passava na mente do seu colega...





quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Short Novel - Heróis de Areia ~ Prólogo

Aew! Para os que me acompanham sempre, de vez em quando ou simplesmente nunca, nas próximas postagens publicarei uma mini-história, ou uma short novel, de autoria minha. Como sou péssimo em fazer sinopses, aconselho-vos a dar uma lida despretensiosa na história, só por curiosidade. Se a leitura prender-vos, beleza: continuem acompanhando. Caso não, beleza também. Meus textos ou histórias nunca foram muito diretos mesmo. Reconheço essa falha minha...rs ^^"
Sim, existem personagens diretos e sim, seguirá quase de forma cronológica e não, nem tudo estará claro. Algumas coisas deixarei simplesmente "no ar". Dependerá da interpretação de cada leitor e espero que vocês fiquem com a melhor possível, para se sentirem  à vontade e acompanhar até o fim, onde nem eu mesmo sei no que vai dar. Hoje só os deixarei com o Prólogo. Na próxima semana, o primeiro capítulo...
Boa leitura! o/


Short Novel: Heróis de Areia

Prólogo - SURROUNDED



O vento soprava do lado oeste daquela região inóspita. O clima dizia que em breve, uma tempestade de areia passaria pelo local, transformando a paisagem num inferno de grãos que cega e derruba qualquer aventureiro inexperiente. É o "Labirinto-Camaleão", conhecido pelos poucos sobreviventes nativos daquele local.
O pulmão precisa ser forte o suficiente para manter o cigarro acesso neste vento. Ele relaxa. É reconfortante. E, a cada tragada, horas a menos de vida são acumuladas na infame lista da Dona Morte.
Não faz diferença: quem fuma vive uma vida sem a certeza da volta; sabe apenas da ida.

Suas luvas de lã e trapo, assim como sua roupa de couro que mistura jaquetas, acessórios indistintos de pano, cintos com rebites lhe servindo como apoio para suas armas, lhe fazem uma forma sólida, caminhando seguro de si, quase uma sombra, não fosse pela camisa branca que usa por debaixo de tudo isso. Sua gola está aberta e levantada; o "V" que forma em seu peitoral, devido aos botões abertos, deixa seu físico exposto...
Olhos semi-cerrados, visualizando sempre em frente e não se intimidando pela visão que cisma em engana-lo pela areia que toma o ar. Sua jornada leva tempo necessário para ele se convencer do que está fazendo, se é que precisa disso. Sequer dá pra imaginar o que ele pensa enquanto se dirige ao seu destino final.

Uma outra figura, bem à frente o observa de uma elevação de pedras, mirando diretamente no peito do homem. Vendo-o obstinado e não fazendo quaisquer menção de parar, ela mantém a mira de sua arma nele. Assemelha-se à um rifle, com detalhes que parecem não pertencer a esse mundo. Típico da raça que as usa.
Sua dúvida e curiosidade faz uma de suas sobrancelhas levantar e, sem entender bem  a sua reação, desiste da mira. Levanta a arma; sai de sua posição estratégica para abater o homem e caminha para trás da elevação de pedras.
Desce e se posiciona em frente ao seu forte de rochas, afim de barrar a passagem do moço. Este pára, lentamente, a 20 metros da figura que carrega o rifle na mão. O seu cigarro ainda garante algumas tragadas.

Frente à frente, eles se encaram. E o vento parece cercá-los, preparando-os para o combate que vai além do que os olhos podem presenciar.


                                                           

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Distância entre os Distantes

A distância era pequena: antes mesmo que pudesse contar em uma mão sua idade, ele já se encontrava dentro do recanto do conhecimento. Sua representação era através de duas árvores, bem estilizadas e delicadamente desenhadas.
Apesar do desenho remeter a um lugar seguro, e a sua distância não ser nem duas quadras de sua casa, aquele lugar oferecia perigo: mordidas e violência eram formas de expressão e comunicação, do qual ele ainda era muito pequeno para compreender...
Antes de ir ou até mesmo quando voltava, sonhos eram tecidos de forma difusa. Uma voz feminina não era madura o suficiente para reclamar, por isso era tão doce ouvi-la.

Dois seres ingênuos construindo seu mundo espectral: um estava descobrindo o mundo, o outro sequer havia acordado...

Aquele que ouvia tinha a missão de compreender gradualmente vários tipos de comunicação: suas diferenças, e o direito de que todos não querem respeitar senão seus próprios interesses. O outro ser, da voz feminina, tinha a missão de cumprir realizando os sonhos.

Independente da idade de cada um, cada qual possuía uma tarefa muito difícil de ser cumprida. E como cada escolha era uma renuncia, à medida que o mais novo apenas absorvia a mistura inseparável do bem e do mal, os caminhos tomado pela mais velha influenciava diretamente o mundo dos dois.

Ah, mas como era gostoso sonhar! Era muito melhor do que festas de aniversário, porque sonhar não fazia barulho, não haviam gritos insuportáveis como a música "parabéns pra você" ou gritos de "gol" na copa. O coração crescia à medida que se alimentava dos sonhos, e era lá dentro que ele fazia sua própria festa. Ambos os corações acreditavam.


Acreditavam num tempo que chegaria...

Acreditavam num tempo que nunca chegou...


O tempo continuou seu fluxo adiante. Mas nunca veio.


Entretanto os corações cresceram. Um se encontra cheio de dúvidas, escuro, oco. O outro se encontra ligeiramente fraco e frágil.

O tempo trouxe à pessoa mais velha um labirinto ardiloso sem muitas esperanças. Caso saia, quais serão suas (novas) perspectivas? Talvez saia mais cega do que quando entrou. Mas ainda há a pequena crença de que, o que não nos mata, nos deixa mais forte.

Para o outro, trouxe ainda mais dúvidas e a plena crença de que os sonhos são apenas frustrações da realidade. Não consegue mais resolver simples contas matemáticas. Por enquanto consegue ficar indignado com certas palavras ou nomes que servem para negligenciar certos momentos de falta de audição de outrem ou ausência de vontade.

Mas também não pode proferir sua voz: nega qualquer ajuda exterior. Os sonhos construídos  ficaram tão enraizados no ser que ele ainda acha que conseguirá um último suspiro. O último tiro. O movimento final de um jogo.



Tenho a leve impressão que, enquanto esses dois morrem lentamente tentando, de algum outro lugar, à distância, estão sendo observados e delicadamente debochados por suas tentativas...

Mas isso é, obviamente, um pensamento distante...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Shining´s Death, Black End

A quase dois meses atrás, houve a feira anual de ciências na escolinha onde trabalho. Enquanto eu sorria desde o começo do ano pelo tema (porque eu simplesmente amo os mistérios do universo), reconhecíamos que era um tema bastante abstrato para os alunos que iam até o 5° ano. O sorteio foi rígido e cada sala ficou com uma meta bem difícil de cumprir.

Ajudei quem eu podia, nos mais variados assuntos do qual eu já sabia um pouco e naqueles que não manjava necas de pitibiriba. Sem dúvida, o tema mais complexo se encontrava na sala do 2° ano: eles estavam destinados a desvendar e explicar sobre os Buracos Negros do Universo!

E fomos às pesquisas! Não foi fácil colocar na cabecinha deles algo tão abstrato até para o adulto mais especializado no assunto, porque a natureza dos buracos negros simplesmente não são compatíveis com as nossas. Em outras palavras, seguimos regras e eles quebram TODAS!

E o desafio ainda não estava completo: a ideia da professora do 2° ano estava em montar uma poesia sobre o assunto estudado; em cima de toda a pesquisa feita e todos os relatos especializados.
Desafio pois, montar um poema sem ser muito complexo, voltado para as crianças, era algo que também quebrava regras. Até agora não acho que o fiz com maestria, embora fosse fácil em si criar um poema.
Mas tenho certeza que eles entenderam os termos Quasar, Supernova, Hipernova, Gravidade e até hoje eles vivem brincando em explicar o significado deles.

No dia, a sala escureceu-se e deu origem as estrelas, que iluminavam os quatro quantos da sala. E a banda Ozric Tentacles estava ali como "A" trilha sonora que dava para tudo um ambiente profundo e misterioso:

http://www.youtube.com/watch?v=UVZxpoq166Q

Com ajuda de lanternas, iluminavam o rosto em dizerem uníssonos, cada qual em seu canto, fazendo uma das melhores apresentações de sala de aula.

Vamos ao poema (Recomendado ouvir a trilha sonora XD) :


As estrelas não são eternas
Um dia elas também se vão
Prestem bastante atenção
Pois todo conhecimento não é em vão

Entender não é fácil
o processo aqui é inverso
O tema é Buracos negros
O maior mistério do Universo

A morte de uma estrela
é a visão mais bela que existe
O segredo se esconde
no momento em que ela não resiste

Se a estrela é dez vezes maior que o Sol
a Super-nova é o show da explosão
Mas se a estrela é cem vezes maior
nasce dela o ponto da destruição

Destinada, desde o seu nascimento

há uma luta no seu interior,
entre combustão e gravidade,
disputando quem é superior

No fim, a gravidade vence
devorando de dentro para fora
Uma Hiper-nova surge...

...E é chegada a hora...

Liberando Raios-gama
É um show de luzes a se contemplar
Entretanto, só de muito longe
pois isso pode nos fritar!

Depois disso, o fim é só o começo
de um pequeno ponto escuro,
com uma gravidade infinita
capaz de engolir tudo!

Estrelas, galáxias, planetas
sistema solar e outras vidas 
Para o Buraco Negro
tudo isso é comida!

Caso ele canse de comer
astronomicamente irá se engasgar
Liberando uma rajada universal de vento
chamado Quasar

Finalmente ele se aquietará

e tudo vai parar de sugar
Continuará a existir
e uma nova galáxia irá surgir

Sim! Talvez a origem do Universo
esteja por de trás desses monstros, 
que vagam por aí
se alimentando também de outros

Chegar perto ainda não podemos
para desvendar seus segredos
Viagens no tempo são desvaneio

passando seu Horizonte de Eventos

Para onde ele leva?
E o que existe do outro lado?
É uma viagem sem volta

pelo vasto espaço...

O pó de estrelas
É do que somos feito
Dessa coisa que carrega
o fardo de ser o Fim e o Começo.