A distância era pequena: antes mesmo que pudesse contar em uma mão sua idade, ele já se encontrava dentro do recanto do conhecimento. Sua representação era através de duas árvores, bem estilizadas e delicadamente desenhadas.
Apesar do desenho remeter a um lugar seguro, e a sua distância não ser nem duas quadras de sua casa, aquele lugar oferecia perigo: mordidas e violência eram formas de expressão e comunicação, do qual ele ainda era muito pequeno para compreender...
Antes de ir ou até mesmo quando voltava, sonhos eram tecidos de forma difusa. Uma voz feminina não era madura o suficiente para reclamar, por isso era tão doce ouvi-la.
Dois seres ingênuos construindo seu mundo espectral: um estava descobrindo o mundo, o outro sequer havia acordado...
Aquele que ouvia tinha a missão de compreender gradualmente vários tipos de comunicação: suas diferenças, e o direito de que todos não querem respeitar senão seus próprios interesses. O outro ser, da voz feminina, tinha a missão de cumprir realizando os sonhos.
Independente da idade de cada um, cada qual possuía uma tarefa muito difícil de ser cumprida. E como cada escolha era uma renuncia, à medida que o mais novo apenas absorvia a mistura inseparável do bem e do mal, os caminhos tomado pela mais velha influenciava diretamente o mundo dos dois.
Ah, mas como era gostoso sonhar! Era muito melhor do que festas de aniversário, porque sonhar não fazia barulho, não haviam gritos insuportáveis como a música "parabéns pra você" ou gritos de "gol" na copa. O coração crescia à medida que se alimentava dos sonhos, e era lá dentro que ele fazia sua própria festa. Ambos os corações acreditavam.
Acreditavam num tempo que chegaria...
Acreditavam num tempo que nunca chegou...
O tempo continuou seu fluxo adiante. Mas nunca veio.
Entretanto os corações cresceram. Um se encontra cheio de dúvidas, escuro, oco. O outro se encontra ligeiramente fraco e frágil.
O tempo trouxe à pessoa mais velha um labirinto ardiloso sem muitas esperanças. Caso saia, quais serão suas (novas) perspectivas? Talvez saia mais cega do que quando entrou. Mas ainda há a pequena crença de que, o que não nos mata, nos deixa mais forte.
Para o outro, trouxe ainda mais dúvidas e a plena crença de que os sonhos são apenas frustrações da realidade. Não consegue mais resolver simples contas matemáticas. Por enquanto consegue ficar indignado com certas palavras ou nomes que servem para negligenciar certos momentos de falta de audição de outrem ou ausência de vontade.
Mas também não pode proferir sua voz: nega qualquer ajuda exterior. Os sonhos construídos ficaram tão enraizados no ser que ele ainda acha que conseguirá um último suspiro. O último tiro. O movimento final de um jogo.
Tenho a leve impressão que, enquanto esses dois morrem lentamente tentando, de algum outro lugar, à distância, estão sendo observados e delicadamente debochados por suas tentativas...
Mas isso é, obviamente, um pensamento distante...
Nenhum comentário:
Postar um comentário