sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Uma viagem sem sair do lugar

Um lado dele defende a Vida.
Crê que tudo possui uma solução.
O mistério de Deus está contido nos segundos de respiração.
Usando dos cinco sentidos, pode-se alcançar o sexto e quem sabe poder mudar, aos poucos, a realidade ao redor, numa cadeia infectada que vai gerando mais vida e mais flores, numa explosão de cores.
O Outro lado defende a Morte.
Tudo tem um fim.
O mistério de Deus será revelado quando tudo acabar, e não será aqui.
Usando dos cinco sentidos, pode-se alcançar a supremacia do último golpe, do último movimento, do ultimo sopro da Vida, tendo a plena certeza de que viveu tudo que tinha de viver e que escolheu esse caminho sabendo sua consequência final, pois adota o 'fim' como algo normal, gerando um legado de quem respirou cada segundo como queria, na explosão de sentir dono da sua própria vida.


A diferença do primeiro para o segundo é que o primeiro, sabendo traçar e andar com cautela, vai longe, não pelo fazer história', mas buscar experiencias, aprendizados. O segundo se joga no fogo, na boca do lobo voraz e mesmo que busque a vitória, caso morra não há importância, pois além de admira-la como uma força que, quando chega, nada se pode fazer, crê também que o feito é feito de forma heroica.

Dos dois, parece que o segundo é o mais perigoso. Pois não tem medo de morrer. Não quer parar, mesmo caminhando em direção ao abismo. Ele acha que ali ele pode voar. E se não puder, em plena queda livre, ele vai fazer o que faz de melhor: improvisar.

Dois pontos de vista diferentes. Dois mundos que não se combinam. Mas pertencem ao mesmo sonho. De novo os sonhos. Com toques amargos do que não foi. Dois mundos de um mesmo Sonhador, Criador de Pesadelos.

 Uma cadeia de dias, horas, minutos e segundos, tão esperados, tão significativos, são recepcionados com um estimado prólogo. Este avisa, em seu discorrer natural, que existe pelos erros e pelo lado desprendido da Vida. E se quiser achar o que busca, terá de frear para ver, mais atenciosamente, o cenário à sua volta...

Claro que o prologo jamais seria claro dessa forma. Ele primeiro faz o Sonhador abrir os olhos, e deixa ele mesmo perceber do que se tratava a 'realidade' segundos antes de acordar; Depois vem o vazio na caixinha do peito. E tudo parece que a introdução do dia é iniciada através de um teste: levantar, caminhar, lutar, buscar, com algo faltando dentro de si.

As malas ja estavam prontas. Tudo estava decidido. Seu itinerário era certo. Não conhecia o lugar, mas apostou nele. Talvez foi o seu lado desgarrado, louco e insano. Buscando um romance próprio, não desse mundo. Talvez foi aconselhado pelo lado esperançoso e pacífico. Não se sabe. E provavelmente nunca saberá. Nunca saberão. Mas foi atendido. Um lado dele, ou os dois: um pelo perdão, outro pelo que buscou.

Foi dado aos dois os 4 básicos, ignorados por todos. À noite, foi dado algo além. Se preparou e fez o esforço de tentar alcançar a visão que almejava desde os tempos de suicídio inconsciente. Ali, embora tivera usado de artifício que o deixasse preparado para qualquer surpresa sobrenatural, estava certo e consciente do que queria contemplar. Estava tão puro, segundo o julgamento dos céus, que lhe foi dado um banho, primeiramente. Pálido, cor de Lua. As sombras ainda estavam lá, pois pareciam que tivesse saído de sua cabeça para sobrevoar e engolir a cidade na mais  desoladora escuridão. Não, não foi o que aconteceu. Como se pertencesse a uma tribo apagada no longínquo tempo desse nosso planeta, dentro de si ele orava, rezava para os Deuses. Não pedia - por favor- em suas orações mas dizia - não sairei daqui sem o que vim buscar; conceda-me, porque essas sombras, embora a natureza dela seja tirar a esperança do coração, não me dá medo-.

Foi dentro de instantes que o monstro alado de dissipou, ainda que não por completo, deixando um rastro do que ele procurava: não sabia, à principio, se o que buscava estava dentro do bicho ou, no cenário da dilaceração, pode enxergar além daquele corpo flutuante.

Sua reza ganhava mais força, porque não se curvava. Não pedia clemencia. Ele se mantinha em pé ou por vezes sentado, olhando pra cima. Convicto, fixo. Sorria de canto. Se afastava das novas amizades procurando um eixo e um angulo melhor da benção que buscava. Aquele rio parecia ser tudo que poderia ser concedido naquela noite. Até então depositar  seus pedidos na grande esfera pálida. Só ela tinha o poder de banhar ele e os céus, os seus.

Num grande arco, que aumentava a cada instante , agora banhava poucas pessoas despertas e muitas em sono profundo. Ele não sairia dali enquanto não sentisse toda a energia. Se alguém quisesse fazer companhia, seria aceita, tanto como foi. Caso não, não mudaria o que pedia em suas rezas. Como mero mortal, dono de dois mundos , ficaria ali. 

Foi ai que novamente deram as mãos. Fecharam os olhos. Sentiram. Entenderam, desde o primeiro momento que avistara, os relatos daquele experiente menino que sabia viajar por aquele caminho.
A perspectiva da visão, claro, era diferente. Mas o respeito e encanto era igual.

E só bastou ver, e contemplar, que os mundos fariam o resto. E com ajuda, ele foi longe...

Mas o Segundo também possui suas verdades: ~Tudo tem um fim~ e desse arco havia chegado.

Foi, assim como todas as despedidas, difícil de realizar. O lado desprendido ainda estava dormindo.

Foi apenas de noite, quando o corpo e alma acostumou com a vitória, que o Segundo despertou.

Dentro do grande caminho, de olhos fechados, ele mantinha os seus abertos. Trabalhando em sua teia, ele depositava o que foi, e o que é.

Na velocidade de suas costuras, suas linhas interligavam novamente à memória.

Velhas preocupações voltavam na mesma velocidade que se percorre a grande estrada.

Ele não sabia se dormia ou se estava acordado. Mas sabia que a realidade voltava, implacável.

A tristeza abraçava ambos.

O que salva o Primeiro é a lembrança de achar o que buscou e que não foi um sonho.

O que salva o Segundo é o impeto de se jogar novamente na Realidade Retaliadora e ver no que dá.


E ambos , pertencendo a mundos diferentes, dão as mãos, em algum lugar, numa única alma, que segue em frente.

Ele acordou, novamente.Com muitas tarefas a realizar e pensamentos a construir...


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