Um lado eu vivencio teoricamente uma fantasia. Teórica porque de fato ela não existe. É apocalíptica demais para a atual realidade. Mas nela eu vejo claramente cidades devastadas, casas abandonadas e pessoas lutando pela vida, nem que pra isso a leve a matar outras pessoas. Talvez, matando-as, tragam mais 5 minutos de vida ou quem sabe uma semana.
Do outro lado, vivencio o que todos os meios de comunicação me dizem sobre o que é a Verdade. E estou nela. Nesta, fui a principio criado a não ser muito otimista e não dar valor a vida. A lamentação foi uma das armas mais usadas. Mas agora abre-se uma clara missão de que chegou a hora de eu provar que a vida tem valor. Eu preciso provar pra uma pessoa específica o valor da luta pelo ar que respiramos. Pelos minutos e segundos que estamos aqui, e que não é em vão. É um jogo confuso, porque talvez eu ainda não tenha aprendido, e enquanto divago, segundos são perdidos e jamais recuperados. Confuso porque a minha descrença não salvará ninguém. Confuso porque devo desfazer a crença da desvalorização das batidas do coração. Uma vida depende disso.
E boa parte do meu mundo secreto começou a se abalar. E agora ele ameaça desabar, pra sempre...
Insônia. Ainda não entendi as regras do jogo. E essa missão me tira o sono. Deixa-me com os olhos pesados, ardidos como se houvesse chorado 45 anos. Me sinto que saí de casa, ainda pequeno, em busca de um grande tesouro, que fosse lendário, e que traria paz para meu povo, meu vilarejo, minha casa, minha família. Sai e parece que nada achei. Os laços que estavam amarrados em mim fui perdendo no meio da aventura. Ora ficava enroscado em galhos; outros simplesmente rasgavam. Caminhei tanto, que acabei cansando e comecei a andar sem rumo. Já havia desistido de procurar. Só quem olha de cima sabe o quanto me esforcei, mas também sabe o quão insignificante foi a distancia percorrida antes e durante a desilusão de procura.
No dia da partida, lembro-me de ter ficado indignado com as palavras que eu ouvi sobre a vida não fazer sentido. Achei uma besteira sem tamanho. E na viagem, já nem podendo mais voltar (e não desejava isso), eu ia cada vez mais em frente e cada vez mais aceitando de bom grado as palavras que outrora não fazia sentido para o coração desbravador que saíra de seu vilarejo. Me tornei como o povo do meu vilarejo. Um "inconsciente respirador".
Não que não se esforçavam para entender cada inscrição antiga nas paredes de nossos limites territoriais. Mas as diversas interpretações os cansavam a cada dia...
Pergunto as vezes, só por perguntar, se dentro de outras casas, em vários lugares que passo, é assim.
Sei que nunca dizem a verdade. Pois podem ocultar verdades ainda mais sombrias ...
Me sinto um quebra-cabeças, com algumas peças faltando nas 4 pontas e uma no centro, mais precisamente do lado esquerdo da minha própria imagem pintada.
Essa peça, dentro dela, está a resposta, a escrita, o modus - operandi de como ser bem sucedido na missão. Como resgatar aquilo que foi perdido. Porque nossos tesouros podem ser vários. E parece que só damos conta deles quando os perdemos.
Se o por do sol existe, ele me traz uma canção triste e profunda. sua luz que gira amarelo,laranja e vermelho me traz uma solidão como num mundo onde me mato pra me manter vivo.
Se a chuva cai,o céu cinza é o imperador que diz que a Esperança está longe de ser resgatada. A água gelada proveniente da chuva e o vento forte são, se num mundo perfeito, o que traz a vida, no meu podem trazer a desistência por serem nocivos à saúde. São os dois ladrões e detentores da Esperança. Entretanto tudo depende de como se encara, como se interpreta, e como caminha adiante...
Alcançando estes, por exemplo, tudo torna amigável, e os dois conceberão o prêmio que guardaram...
Sinto que minha casa está vazia. Dentro e fora.
Que as coisas ficarão estáticas com o tempo. Cheirarão ruim pela casa trancada.
Que o tempo vai parar. Não terá tanto movimento. Bem, ela também precisa de um tempo sem mim, e de minhas maluquices.
Reconheci, em minhas andanças lá fora, uma habilidade muito importante para se manter de pé. Escapar dos perigos. Revitalizar a energia perdida. Necessito disso agora. Até o dia que partirei, juntarei essa energia.
Coletarei no mais carinhoso movimento. Colecionei vários até hoje e creio, se não fosse por eles, eu ja estaria morto.
O Abraço...
É algo que o ser humano pode fazer quase sem nenhum esforço. Nesse momento, preciso de muitos mais do que nunca. Muitos, pois não posso sobrecarregar quem já está me dando sem nada em troca.
Quando é demasiado bom, as lágrimas correm para fortalecer aquela energia e gesto.
Os que não puderem dar, sinto revelar que irei roubar. Desculpem, mas não é pra mim, em termos.
Eu preciso juntar toda a força deles num só lugar. Preciso espalhar logo após por todo meu corpo. Preciso fazer com que emane pelos meus poros e faça meus olhos brilhar de uma forma incandescente.
Uma vida depende disso.
Eu terei de ser uma das veias ligadas ao coração.
Eu terei de estar presente como o ar.
Eu preciso ser a água escondida num poço no Deserto.
Acima de tudo, eu preciso provar que a luta pela vida vale a pena.
Com todos esses abraços que recebi até hoje, cheguei onde estou.
Mas agora é hora de transferir para quem precisa.
Serei o mediador. Manter de pé minha alegria. Minha minúscula crença.
E fazer disso tudo a cura.
Todos os meus amigos, meus sinceros Obrigado.
Sei que não estou longe. E gabo em me dizer que, onde quer que eu vá, estarei bem acompanhado por vocês. Obrigado pelo carinho e pela força que me dão diariamente, seja os conselhos, os tapas na cara, ou as horas desperdiçadas com a mais simples felicidade de sermos amigos...
Agora preciso arrumar as coisas e partir. Enxugar os laços. Respirar fundo esse ar. Raciocinar focando a vitória. Colocar todos os abraços dentro da minha caixa e salvar... Salvar entre pessoas e laços, a crença de que a vida tem valor.
O ladrão de Abraços
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