segunda-feira, 11 de março de 2013

Unsleep Dreamer

Os três tomos foram seu chão, seu caminho e sua verdade. Não há como apagar o que foi vivido e escrito. Basta praticar o ato da lembrança e assim se torna eterno sua viagem. Mas não parou por ai. A Divina Trindade de sua própria vida expandiu-se e, assim que aquele menino se despediu de seu familiar, a história continuava em algum ponto, de alguma forma. Eram as linhas secretas e passagens que só Ela poderia gostar de saber. E ela não hesitou em perguntar o que houve. Onde os anos o haviam levado. Enquanto a realidade cuidava dos dois para sumir, sua voz foi como veludo repousando sob a existência dela. Alimentando, mais uma vez (como sempre fez) a curiosidade da senhora ali presente.

A curiosidade que abre mais um tomo, e essa é uma de suas páginas...


Ele caminhou, caminhou e seu caminho, pra dizer que não tinha só pedras, houve muita ação e desaventuras de tal modo que usou-se as antigas armas para tentar sobreviver. Mesmo moderando, aos poucos foi vítima do gás toxico e seu coração, mais uma vez, foi vítima daquela lâmina.

Ele se encontrava não parado, mas observando, estudando, de modo quase ocioso.

Ele estava cômodo, protegido como podia, inseguro com um possível retorno.

Mas haviam laços despedaçados, perdidos, desfeitos. E a vida trouxe, numa caixa de sustos e sentimentos, um convite para uma breve passagem no cenário de seus sonhos com sabor de pesadelos. O endereço da caixa veio exatamente desse lugar.

Ele havia perdido aquilo que julgava importante. Ele já não sentia uma importância dentro de si, mas mantinha-se em pé, de alguma forma. Seu trono foi abalado justamente quando se deparou que REALMENTE precisava retornar, porque mesmo o amor inexistente dentro de si, ele ainda dava importância ao seu gostar.

Suas noites foram em claro, olhos pesados, mareados, perdidos...

Estava ali, o começo de uma suposta perda, e tendo de de enfrentar estruturas enegrecidas de seus erros e de quem não aceitava suas falhas.

Não era uma muralha. Era uma cidade inteira.

Alimentou-se, ainda que sua boca mal abria, das compaixões próximas.
Alimentou-se dos tapas e surras na face de quem oferece o outro lado, por merecer apanhar.
Alimentou-se do medo e das sombras invisíveis que cismavam visita-lo no lugar de trabalho e na sua casa...

Bateu tudo no coração. Houve a mistura. Houve o levantar, a mala ligeiramente pronta contendo tudo e além do que não precisava. E foi, sem avisar.

Os quilômetros avançados eram como flechas que fincavam cada vez mais forte no corpo de quem avançava contra. Sua viagem tinha sim, gosto de estar viajando forçadamente e contra o vento.

A mente foi se perguntando o que poderia acontecer. Como seria. Que clima encontraria em seu itinerário:  Sol e tempo aberto ou Chuva e tempestade friamente cinza?

Num curto momento desamparado, olhou por curiosidade acima, e á sua direita. Teve a visão de algo que jamais imaginou estar ali, para reconforta-lo. Aquilo que sempre acalmou seu coração. E as lembranças o levaram à tristes páginas filosóficas e a um quintal escuro, de muito tempo atrás, que servira de proteção ao pequeno estudioso dos brilhos inalcançáveis...

Uma dor bem localizada cismava em doer. Pontadas era a comunicação feito Código Morse em sua caixa torácica avisando dos próximos momentos que os olhos captariam.

Cada subdivisão ele reconhecia algumas frases, algumas músicas. A película na cena era espantosamente antiga. Carregava em si centenas de anos: o trajeto de um coração puro rumo à distorção.

Os meses e os acontecimentos voltaram à superfície em uma velocidade incrível, que o fez pensar como tivera bancado o ingenuo achando que havia esquecido de tudo. Ali, cada fragmento de calçada, parede ou realidade, só ele assistia as cenas do passado, vivas, se mexendo e se contrapondo à visão noturna e real. Manhã, tarde e noite tudo ao mesmo tempo, numa tela à óleo de um Artista Expressionista, Auto-realista e Surrealista.

Seus passos o levaram a mais nova realidade. E o que encontrou assim que chegou foi um outro cenário. Ou melhor: o cenário era o mesmo, mas existia uma fina camada de areia que dizia que ali,o pó do esquecimento repousara na vida dos moradores da cidade, fazendo se esquecer daquilo que ele jamais tinha esquecido...
No teatro da vida, ali as ações e conversas diziam claramente que o mesmo vento que trouxe a areia, arrancou um capítulo antes, se tornando inexistente naquele lugar o que ele trazia consigo.
Sorriu e desejou, por alguns segundos, que o vento tivesse sido mais forte...

Tanto no sol quanto no escuro, andava cautelosamente, ainda que esbanjando cores. As cenas estavam ali, mas o brilho do Sol era mais forte a ponto de faze-lo se sentir um pouco confortável. Entretanto sabia que estava ali para ajudar em algo que futuramente poderia ser grande e difícil de derrubar.

Um de seus erros foi ter esquecido muita coisa depois de alguns dias...
Achou que acordou demasiadamente tarde. Não. Ele apenas fechou os olhos, querendo que permanecesse assim para sempre.



 

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